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O circo montado à volta do próximo livro de Herberto Helder é pior do que aqueles circos que andam de terra em terra, com tubarões adormecidos e leões dopados até às raízes das jubas. Eu sei que existem coisas piores para serem discutidas, como, por exemplo, as recentes – e vergonhosas – declarações daquele Senhor que dizem ser o Primeiro-Ministro. Mas voltemos ao livro e a Herberto Helder. Herberto Helder há muito tempo que deixou de ser poeta para ser instituição (e quase intocável). Apesar dos esforços para o não ser – recusar dar entrevistas, não permitir que a sua poesia seja reeditada individualmente –, Herberto Helder falhou. Talvez muita da culpa seja sua: todo o mistério que criou à sua volta só multiplicou o número de “adoradores”, levando a que alguns dos seus livros passem a valer o triplo ou o quádruplo do valor real. E desta vez a coisa atingiu um patamar inqualificável e inenarrável – e ainda nem o livro está à venda. Duvido que o autor não tenha conhecimento de tudo aquilo que se está a passar. Se não está consciente do que se passa, deveria estar, ou alguém o deveria avisar. Tudo isto é de lamentar, mas, na realidade, nada disto é novidade, principalmente quando o autor em questão é Herberto Helder. Não vou negar que me deixei deslumbrar pela sua poesia quando tinha 16-17 anos e li, durante esse verão, Poesia Toda. Contudo, sempre me agradou mais a sua prosa: considero Passos em Volta um livro genial. No entanto, não posso ficar indiferente a todo o aparato criado em redor de mais um livro seu. Mas a verdade, aquela que verdadeiramente importa, é que não irei comprar o referido livro. Tal como não comprei os anteriores. Só tenho um livro de Herberto Helder. Penso que sabem qual é.

4 comentários:

Anónimo disse...

Tentada a concordar contigo (e muito). Mas... é HH. Na poesia, não encontro igual (embora também na prosa me fascine).

manuel a. domingos disse...

cara Júlia:

Herberto Helder não é mais do que os outros.

a questão aqui é a palhaçada que foi montada. exemplo: os livros não serão distribuídos por todas as livrarias, mas só por algumas (que serão designadas pela própria editora).

e repare: eu não compro a poesia de Herberto Helder. mas se o autor pactua com esta situação, que merece ser denunciada, ainda é pior, tendo em conta o "mito" herbertiano.

volte sempre.

cumprimentos

Anónimo disse...

sim, percebi o que quis dizer e tem toda a razão.
mas para mim, hh «é mais» do que os outros.

grata pela resposta.

Andy disse...

foi exactamente isto tudo que senti quando tentava comprar "servidões" de Herberto Helder, que não consegui. estupefacta por tamanho aparato… até me sentia estranha quando perguntava pelo livro nas livrarias, como se se tratasse de uma pergunta descabida (depois percebi que era mesmo). e por isso a curiosidade pela obra ficou por ali, pela estranheza e ausência...