meia-noite todo o dia
Calendário
Os Donos Disto Tudo
Noam Chomsky
Tradicionalmente, o intelectual encontra-se dividido entre as exigências contraditórias da verdade e do poder. Ele gostava de ser o homem que procura discernir a verdade, dizer a verdade como a vê, agir — coletivamente quando possível, sozinho quando necessário — de forma a opor-se à injustiça e à opressão, e ajudar na criação de uma melhor ordem social. Se ele escolher este caminho, tornar-se-á numa criatura solitária, desprezada ou injuriada. Se, por outro lado, colocar os seus talentos ao dispor do poder, pode alcançar o prestígio e a riqueza.
em Os Senhores do Mundo, tradução de Paulo Barata, Bertrand, 2016, p. 27
Calendário
Indignar-me é o meu signo diário
Calendário
Parece que os jornalistas da RTP, enviados a Jenin na Cisjordânia, tiveram a carrinha alvo de disparos das tropas israelitas de ocupação. E ficaram surpreendidos. É o que dá não andar atento às notícias.
Calendário
No dia 7 de Julho a França foi a eleições. Os franceses deram uma vitória clara à esquerda. A Nova Frente Popular (coligação de esquerda que reúne a França Insubmissa, socialistas, ecologistas e comunistas) foi a mais votada, obtendo 182 deputados. Longe de ter a maioria parlamentar, a Nova Frente Popular ganhou as eleições. Entretanto, vieram os Jogos Olímpicos, o mundo esqueceu o dia 7 de Julho e Macron agradeceu. Soubemos há dias (mais concretamente: seis semanas depois do acto eleitoral!) que o Presidente francês recusa-se a dar posse ao governo da Nova Frente Popular. Alega "ingovernabilidade". Não nos podemos esquecer, também, que logo depois das eleições Macron disse que "ninguém ganhou", o que é falso. "É a 'democracia liberal' a funcionar, estúpido!", pensei no outro dia.
Dsitância focal
William Eggleston
Foto: Eric Chakeen
Distância focal
Às vezes procuro tirar uma fotografia com um fotógrafo que aprecio em mente. No presente caso pensei em Joel Sternfeld e no seu trabalho "American Prospects". A verdade é que os arredores, esses lugares de fronteira entre o urbano e o campestre, sempre me fascinaram.
Distância focal
Distância focal
Distância focal
A primeira máquina fotográfica lá em casa foi uma "Silver" comprada no Senhor João Merrinha e foi-me oferecida pelos meus pais num Natal, tinha eu perto de dez anos. Era a típica "point and shoot", toda em plástico e sem flash (o que impedia fotografar em interiores). Tirei algumas fotos com ela, mas não muitas, já que rolos, revelações e impressões extravasavam o "plafond de luxo" da família. Sim: fotografar, em casa dos meus pais, era um luxo reservado para as ocasiões mais especiais. Anos mais tarde, uns tios emigrados em França ofereceram-me uma Kodak Graffiti, que levava rolos 110. Tinha flash incorporado e foi um upgrade fantástico. Mas, mais uma vez, era um luxo. Tanto uma como outra avariaram-se e só voltei a ter máquina fotográfica quando comecei a trabalhar e um subsídio de férias deu para comprar uma Nikon F65. Fotografar deixou de ser um luxo. Até ao dia em que a casa onde tinha um quarto alugado foi assaltada e levaram-me a máquina fotográfica e um portátil. Estávamos em 2006. Só em 2008 comprei nova máquina: uma Nikon D50. E todo um novo mundo de possibilidades surgiu. Agora fotografo com uma Nikon D610, ou com uma Ricoh GR III. Às vezes, quando me apetece, dou-me ao luxo de fotografar com uma Lomo LCA, ou com uma Nikon F65, que entretanto comprei em segunda mão.
Cape Light - Joel Meyerowitz
Calendário
Como é óbvio estou contente com a derrota da extrema-direita em França. Apesar de ter aumentado o número de deputados, ficou relegada para um terceiro lugar, quando algumas sondagens, durante vários dias, lhe davam a maioria absoluta. A adesão às urnas foi enorme e os franceses demonstraram que não querem reviver o passado em Vichy. Agora, resta à Nova Frente Nacional estar à altura da responsabilidade que lhe foi confiada.
Distância focal
A fotografia tem vindo a ocupar e a ganhar cada vez mais espaço na minha vida. Tal como um dia a poesia. No outro dia, por exemplo, recebi uma compra recente: "Election Eve", de William Eggleston. Já antes tinha adquirido "Mystery of the Ordinary". A descoberta de Eggleston, na fotografia, está para mim como a descoberta de António Reis, na poesia. E talvez ambos algures se toquem, naquilo que têm de quotidiano. Foi Eggleston quem um dia disse: “I am at war with the obvious.”. Vendo as suas fotografias acabamos por entender que sim, que há ali um combate, uma luta corpo a corpo. Acredito que Reis, na sua poesia, também combateu o óbvio, também lutou contra ele.