Um poema de Andrea Bassani


(LXXVII)


Abençoados os que dormem,
que acreditam na verdade do que vêem,

que diante do espelho sorriem.
Abençoados os que entre as ruínas
passeiam de gelado na mão,
param a olhar as montras,
desejam um fato, uma gravata, um sobretudo.
Abençoados os que ao sol
conseguem estar horas estendidos na cadeira,
que o importante é o jogo de futebol,
que para rei morto, rei posto.
Abençoados os que lêem
e não os assalta o desejo de escrever,
sendo-lhes permitido calarem-se
sem sentirem que se afogam.
Abençoados os que não desejariam ser eu.
Esses que jamais poderei ser.


em Cão Celeste #13, tradução de José Carlos Soares e Serena Cacchioli, s/l, Junho de 2019, p. 13.

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