Ontem, até quase à meia-noite, não li jornais, não
ouvi rádio e não estive perto de nenhuma televisão. Isto para dizer que não
acompanhei as celebrações protocolares, oficiais e oficiosas, do dia. Mas
depois do jantar vi em diferido um painel da TVI onde Judite de Sousa juntou
duas resistentes comunistas com Fernando Medina, filho e neto de comunistas. As
duas senhoras, Faustina Barradas (1944) e Mariana Morais de Oliveira (1949),
falaram da sua experiência na clandestinidade, em particular sobre o drama dos
pais que eram obrigados a separar-se dos filhos. Faustina sem conter a emoção,
Mariana com travão ideológico. Faustina veio do Alentejo da fome, Mariana foi
aos 17 anos estudar dialéctica para a União Soviética, e relatou com pormenor
as peripécias do salto de fronteira. Medina, que no 25 de Abril tinha pouco
mais de um ano de idade, nasceu longe do pai, algures na clandestinidade. Foi
por um anúncio de jornal (uma senha) que teve conhecimento do nascimento do
filho, que é hoje presidente da Câmara de Lisboa. Memórias muito diferentes,
todas comoventes. Fica-se sempre com um nó na garganta. Há ocasiões em que nos
reconciliamos com a televisão.
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