Miguel Cardoso




Em dois mil e dez Miguel Cardoso publica o seu primeiro livro. Teve o desplante de lhe dar o título Que se diga que vi como a faca corta, dois anos depois de Herberto ter dito que A Faca Não Corta o Fogo. Não sei se houve escândalo, mas houve comentários. A primeira vez que ouvi Miguel Cardoso a ler foi no primeiro andar da Sá da Costa (quando ainda se sonhava que era possível manter viva a Sá da Costa). Começou por dizer que tinha fama de ler durante muito tempo, podendo demorar mais de uma hora. Eu ri-me, pois pensei que fosse exagero: não foi. Esteve perto de uma hora a ler um longo, longuíssimo, poema. Uma das vantagens da sua poesia é não permitir uma catalogação, uma etiqueta. É Poesia (etiqueta suficiente). Leia-se Os Engenhos Necessários e Pleno Emprego. Fruta Feia anda a circular por aí. Em Portugal existe uma tendência: dizer que aquilo que é nosso é o não-sei-quê estrangeiro (exemplo: os Linda Martini são os Sonic Youth portugueses; ou os Peixe:Avião são os Radiohead portuguseses). Não me admirava nada que um dia destes o mesmo acontecesse com Miguel Cardoso. Aviso que não será fácil.

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