Um poema de Luís Filipe Rodrigues


O Amor de Véspera

2.

Saber-te no deserto do desejo pela manhã
tão leve a língua em altas ondas preparada
para a grande estrela feminina
quem sabe se nela erguendo-se.
É pelo menos essa a qualidade altiva dos arranha-céus
pôr o céu dentro de casa
e na felicidade doméstica deixar suspensa
a ficção do nosso olhar.

Saber-te no deserto do desejo é como estar detrás
e tão dentro da areia enaltecida
e tão prestes a grande minúcia terrestre
talvez um grão de rosa ou um minúsculo buraco no estilo
uma simples unhada na inteligência.

Saber-te no deserto do desejo é ainda como
estar detrás e já a cabeça dentro do espelho,
sempre imóvel, até sentir o lume a pele
atacando
em pleno alvorecer.

em Dizer de Véspera, Lisboa: Moraes Editores, 1ª edição, colecção Círculo de Poesia, 1983, p. 15.

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