São já 37 as versões de poemas de vários autores estrangeiros disponíveis no Ervas de estio. Ao ritmo de uma por semana (todas as terças-feiras às 10h) as versões lá vão aparecendo. Ontem foi a vez de Philip Larkin.
Este senhor é Luís Delgado. É o dono da Trust in News Unipessoal, que adquiriu, em 2018, a revista Visão e outras 11 revistas do Grupo Imprensa: Activa, Caras, Caras Decoração, Courrier Internacional, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, TeleNovelas, TV Mais, Visão História e Visão Júnior. O negócio custou 10,2 milhões de euros ao jornalista e comentador.
Luís Delgado não paga salários desde Setembro e subsídio de alimentação desde Julho. No entanto, isso não o impede de aparecer na televisão e botar faladura sobre o Orçamento de Estado.
Em 1997 os Tindersticks vieram a Portugal para dois concertos: Coliseu do Porto e Coliseu de Lisboa. Em vez de perguntar aos meus pais se podia vir, tratei de tudo com antecedência: juntei o dinheiro suficiente para a viagem, para o bilhete do concerto e um dia disse aos meus pais "em Novembro vou a um concerto a Lisboa". O Terreiro recebeu-me na sua casa de Odivelas. Choveu todo o fim-de-semana e pela primeira vez entendi o que era essa coisa do "urbano". Mas adiante. A primeira parte do concerto dos Tindersticks esteve a cargo dos Puressence, banda de Manchester, que tinha lançado o seu primeiro álbum em 1996, o homónimo "Puressence". Para quem, como eu, levava na bagagem a sonoridade dos Tindersticks (e a vontade de os ver ao vivo), foi uma enorme surpresa a música do quarteto que à nossa frente se apresentava. Lembro-me, essencialmente, do nervosismo visível de toda a banda e da voz em falsete de James Mudriczki. O concerto lá aconteceu e por aí ficou. Mas também é verdade que as músicas também ficaram connosco e passámos o resto da noite a comentar aquela banda e a sua aparente fragilidade. Procurámos afinidades e influências (Joy Division, The Sound, The Cure, talvez um pouco dos The Smiths). Às vezes um de nós começava a trautear um dos temas. Resumindo: ninguém ficou indiferente. Como ficar indiferente, por exemplo, a "Near distance" e "I supose", temas que abrem na perfeição o álbum? Como esquecer "Fire"? Mas é o tema "India" que até hoje me acompanha: "I used to feel I had it all in my hands,/It all came crashing down on me, yeah,/With lipstick on my overall,/And it makes me feel so over awed,/I'm sinking fast".
Quer ganhe Trump, ou Kamala, os satélites da Starlink de Elon Musk continuarão a debitar dados aos serviços de informações da Ucrânia e de Israel para estes referenciarem alvos, as 865 bases militares americanas continuarão nos 130 países onde se encontram cerca de 350 mil soldados e os mais sofisticados armamentos. O ouro continuará a valorizar-se. A bolsa de Wall Street continuará a determinar o que cada um de nós pode comprar com o dinheiro que recebe. A Europa, com UE e NATO, continuará desaparecida.
Por um lado, têm consciência que os motins que se avizinham serão perigosos e destrutivos, mas por outro também sentem um ultraje a que nenhum político ou comentador saberá alguma vez responder. Sabem que no dia seguinte serão crucificados nas televisões por uma dúzia de cabeças falantes que projectarão naqueles quarteirões os filmes americanos e brasileiros que viram na Netflix, falando de traficantes de droga e de gangues que reinam sobre o bairro com uma mão de ferro, mas também sabem que é precisamente por isso que tantos daqueles jovens passarão as próximas horas a queimar tudo a que conseguirem deitar mão. Portugal inteiro tem uma palavra a dizer sobre as suas vidas sem nunca ter passado cinco segundos perto delas.
Nas cassetes pirata que ainda existem em casa dos meus pais está uma de Marco Paulo. Na altura, o tema "Eu tenho dois amores" era o mais ouvido lá em casa. A cassete tem a imagem que aqui reproduzo. Sempre tive por Marco Paulo o maior respeito, tanto do ponto de vista pessoal como artístico. E confesso que o tema "Maravilhoso coração" mexe comigo e não me perguntem a razão, pois não consigo explicar. A verdade é que cresci (crescemos?) com a sua presença nos meios de comunicação social. Faz e fará parte do meu imaginário. Quem nunca cantou "Uma lady na mesa/uma louca na cama/na maior safadeza/ela diz que me ama"?
No Canadá há um monumento para homenagear as vítimas do comunismo. Há muito que anda para ser inaugurado. Havia nele gravados 553 nomes. Mas agora são apenas 163. E ainda não é desta que será inaugurado. Querem saber a razão? É ler o texto do António Santos.
O que Luís Montenegro também não diz é que o seu governo, através do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), pretende que o Estatuto da Carreira Docente (ECD) deixe de ser um Decreto-Lei para passar a ser uma Lei da Assembleia da República (AR), o que poderá ser ilegal, uma vez que a AR não tem competência negocial e as questões de carreira são de negociação colectiva obrigatória.
Não podemos esquecer que o ECD foi apenas criado e estabelecido em 1990, depois de décadas de luta (tendo começado ainda nos anos 70, com os chamados Grupos de Estudo, que foram perseguidos pelo regime fascista). Isto é: o ECD não é algo que sempre existiu, e muito menos nos foi dado, oferecido. Foi conquistado. Ele é, sem sombra de qualquer dúvida, uma conquista dos professores. O ECD constitui um importante instrumento legal de protecção e reconhecimento do papel dos docentes como promotores dessa importante função social do Estado: o desenvolvimento de uma Escola Pública democrática, inclusiva, gratuita e de qualidade para todos.
A linguagem cimentada em “classes”, “progresso”, “trabalho” e “desenvolvimento” da esquerda que advém pós segunda guerra mundial é posta de lado para falar em “melhores práticas”, “bom senso”, e “evidência”. Com a coordenação das ONGs, a metodologia dos thinks tanks e a linguagem emprestada da académica, a esquerda Brâmane trai a social democracia que tanto lhe serve de inspiração.
O actual governo do PSD e CDS-PP é exímio nas cortinas se fumo. Agora é a "carga ideológica" da disciplina de Cidadania. Falar do OE e da sua "carga ideológica" (essa sim existente e clara!), não convém. Daí mais uma cortina de fumo. E resulta. A verdade é que resulta. A prova está, precisamente e em certa medida, nesta minha publicação.
Ainda me lembro da primeira vez que vi o "video clip" de "Even Flow". E no fim pensar "quero ter uns calções como os daquele gajo". Em casa o dinheiro não abundava e por isso expliquei muito bem à minha mãe como eram os calções. Por sorte havia lá por casa um par de calças de ganga verde que há muito tinham deixado de cumprir a sua função. A minha mãe com uma paciência só dela lá me fez os calções com uns bolsos nas pernas conforme eu tinha estipulado. Depois foi arranjar um t-shirt mais uma camisa de flanela. Botas de pneu já tinha. E foi esse o meu "uniforme" durante o Verão. Se não estou enganado foi um dos mais luminosos de sempre. Isto tudo para dizer que passados todos estes anos (e já lá vão 33) foi comprado em CD (parece que agora os CDs é que são "retro") um dos álbuns da minha vida. E porra! Já saltei e pulei e por pouco não me vieram as lágrimas aos olhos quando novamente me vi frente ao espelho a treinar a pose mais o orgulho de ter uns calções como "os daquele gajo".
Quando algures em 1998 o Miguel Martinez me deu a conhecer Sixteen Horsepower, e este "Low Estate" (1997), rapidamente se tornaram, para mim, numa banda de culto (tenho, aliás, todos os álbuns dos rapazes de Denver). A verdade é que aquilo que ouvia era muito diferente das sonoridades que povoavam os meus dias, a começar pelo sotaque do vocalista, David Eugene Edwards (que passou por Crime & The City Solution, e que é vocalista de Wovenhand [banda altamente recomendável]), que remete para os estados do sul dos Estados Unidos da América. Todavia, o tom combinava com o preto que vestia todos os dias. O álbum (produzido nada mais nada menos do que por John Parish) é povoado pelas dicotomias amor/perdição, luxúria/arrependimento e os possíveis jogos entre elas. Aliás, a religião é algo muito presente nas letras das músicas, que são uma combinação de country, folk, gospel, bluegrass e rock. Uma combinação, diga-se, muito bem conseguida. Temas como "Brimstone Rock" (que abre o álbum), "For Heaven's Sake", "Coal Black Horses" são bem representativos dessa mescla. Mas é o tema "Phyllis Ruth" que resume todo o imaginário desta banda, que anda muito pelas águas do chamado "American Gothic": "As one with spirit yes/She goes where it goes/What my little girl sees from the sill/Nobody knows/As one with spirit yes/She goes where it leads/Oh boy, that's where my little girl feeds". Já o tema "Dead Run" remete-nos para aquele Nick Cave and the Bad Seeds inicial, onde não existia a lamúria existencial, antes a revolta, a fúria, o dedo apontado ao rosto de Deus. Sixteen Horsepower (às vezes 16 Horsepower) há algum tempo que deixaram de existir. Mas ainda podem ser encontrados por aí. Arrisquem.
Centenas de milhões de europeus migraram dentro do continente e para fora dele (especialmente para as Américas) nos últimos 200 anos, procurando o mesmo refúgio e fugindo das guerras, perseguição e miséria de que fogem todos os migrantes e todos os refugiados em qualquer momento da história. A securitização das migrações e, em especial, do direito de asilo, é uma impostura nauseabunda na boca de quem quer acabar com a democracia pela política do medo que, desde o 11 de Setembro, continua a ser usada como instrumento de governo. E o governo pelo medo tem um nome. Ditadura.
no Público, 16 de Outubro de 2024
Tendo em conta o massacre, o genocídio do povo palestiniano em Gaza, sou assaltado muitas vezes pelos versos do poeta polaco Juliusz Slowacki, que li, como epigrafe, num poema de Zbigniew Herbert: Não é tempo de chorar as rosas/quando há florestas a arder.
Uma coisa é certa (e Paulo Raimundo tem toda a razão): até dia 10 de Outubro não havia Orçamento de Estado e só se falava de medidas que iriam estar no Orçamento de Estado. Depois do dia 10 de Outubro há Orçamento de Estado e não se fala dele, pois andam-nos a entreter com novelas e novelinhas. Mas falar do que é essencial (o Orçamento de Estado) é que não. Nada. Nicles. Batatoides.
Sérgio Sousa Pinto é o que de mais reaccionário (ainda se pode dizer?) existe no PS. A sua arrogância, mascarada de ética republicana (bengala que fica sempre bem usar), é uma vergonha e, penso, uma embaraço para as forças mais progressista dentro do PS.
Mas não nos iludamos. A discussão sobre a validade, ou não, do IRS Jovem deve acontecer; a discussão sobre o IRC deve acontecer; a discussão sobre os comentários impensáveis a propósito dos jornalistas deve acontecer. Mas não nos iludamos. São tudo cortinas de fumo que desviam a atenção daquilo que é essencial: o aumento dos salários, das pensões, o reforço do SNS e da Escola Pública, o direito à habitação.
Não considero um exagero dizer que Montenegro (que ainda é o Primeiro-Ministro de Portugal) atacou ontem a classe dos jornalistas, tanto na sua dignidade e profissionalismo, como também na sua ética. O episódio dos "auriculares" é de um provincianismo atroz, não sendo digno de um Primeiro-Ministro. O seu comentário, desrespeitoso e tacanho, aproximou-o de um governante "à la Trump" (onde os meios de comunicação social são constantemente retratados como "nasty people") e da extrema-direita que vê os meios de comunicação como alvos a abater (excepto de forem detidos pela mão que alimenta), apesar do discurso mentiroso do "respeito pela liberdade de expressão".
Acresce a tudo isto o "plano" do governo para a RTP, nomeadamente com despedimentos programados e perda de receita própria (através do fim da publicidade paga). Não esquecer, ainda, o dinheiro do erário público que está previsto para os grupos privados de comunicação. Um deles, a SIC (detida totalmente pelo grupo Impresa) tinha uma passivo financeiro, no final de 2023, superior a 212 milhões de euros.