Derna


Em Derna, Líbia, podem ter morrido perto de 20000 (vinte mil) pessoas. Em 2011 (e segundo a Wikipédia) a cidade tinha 80000 habitantes, mas estima-se que à data da terrível inundação tivesse perto de 50000.

O silêncio nas redes sociais é avassalador. Mas talvez se entenda: o país fica num outro continente, olhos azuis são poucos e rezar o "Pai Nosso" não é um costume enraizado.

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A 19 de Julho de 1979 a Frente Sandinista de Libertação Nacional terminou com a ditadura instaurada na Nicarágua e que durava desde 1936. No dia 18 de Julho de 1980 foi o meu terceiro aniversário. Os meus Pais ofereceram-me, como presente, um cachorrinho. Sem demoras foi "baptizado": Zero.

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Muitas vezes caímos na tentação de criticar esta ou aquela revolução, ou este ou aquele revolucionário. Criticamos os exageros e também as omissões. Mas quantos de nós já se perguntaram: que faria eu se participasse numa revolução? se participasse de forma activa, presente, revolucionária? quais seriam os meus exageros? quais as omissões?

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Líbia. Até ao momento, e em resultado das terríveis cheias que afectaram o país, contam-se mais de 5300 vítimas mortais e mais de 10000 desaparecidos. Só na cidade de Derna foram encontrados 1500 corpos.

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A data de 11 de Setembro 1973 ficará para sempre na memória de todos os democratas. Um Presidente democraticamente eleito, repito: democraticamente eleito, é derrubado pelas forças fascistas do General Pinochet, com o apoio directo dos Estados Unidos da América e seus aliados.

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Não sei como foi convosco, mas por aqui foi sentido o sismo, de ontem à noite, por volta das 23h11min, que afectou Marraquexe.

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Uma grande maioria pressupõe (pois só pode tratar-se de uma pressuposição) que ser-se comunista e marxista-leninista é aceitar os anos do terror estalinista, as invasões da Checoslováquia e Hungria, ou o gulag, só para citar alguns simples exemplos  tantas vezes utilizados para atacar o comunismo e o marxismo-leninismo. Isto é o mesmo que eu pressupor que todo o socialista, social-democrata, ou até mesmo democrata-cristão, defende a invasão do Iraque, o bloqueio a Cuba, Guantánamo, ou a prisão de Abu Ghraib.

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A primeira tarefa de todo e qualquer autor (refiro-me a escritores, sejam eles poetas, romancistas, contistas, ensaístas e por aí em diante) deveria ser aceitar a sua insignificância. Render-se a ela. Considero mesmo que seria fundamental,  já que o autor, ao aceitar a sua insignificância e a ela render-se, deixaria, essencialmente, de escrever a pensar no outro (leitor, reconhecimento, mercado, prémios literários e por aí em diante), o que provocaria uma exponencial melhoria daquilo que faz.

Regarding Susan Sontag | Nancy Kates | 2014

 



A primeira vez que ouvi Susan Sontag foi numa entrevista perdida no tempo num qualquer canal de televisão espanhol. TVE 2. Tenho quase a certeza. Era uma entrevista antiga. Gostei da sua beleza desconcertante, já que fugia àquilo que me era imposto, em certa medida, pela televisão e pelas revistas que apareciam lá por casa. E gostei, também, do seu ar despreocupado, que muito mais tarde associei a "charme". Daquilo que disse na entrevista pouco ou nada comigo ficou, pois na altura os meus interesses eram outros, tal como a juventude que os alimentava. Assim, e agora que a idade me trouxe novos interesses, foi com muito gosto que vi "Regarding Susan Sontag" (Nancy Kates, 2014), documentário sobre a escritora estado-unidense. Não estamos na presença de uma hagiografia, já que a realizadora teve esse cuidado, sendo que alguns testemunhos são, até, bastante duros (principalmente aqueles das suas amantes, o que talvez não seja de admirar). É um documentário que entremeia bem, na minha opinião, a primeira pessoa (Susan Sontag) e a segunda pessoa (os vários testemunhos): são vários os momentos em que Susan Sontag, e aquilo que diz e escreveu, é, de certa maneira, contrariado pelos testemunhos. Não são muitos os exemplos; mas são suficientes. Um deles, da escritora Frances Lebowitz, é bastante pungente, quando se refere à experiência de Sontag em Sarajevo durante a guerra. Falta apenas dizer que, até hoje, apenas li um livro de Susan Sontag: "Olhando o Sofrimento dos Outros". Terei, sem dúvida, de colmatar esta minha falha.

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Indignar-me é o meu signo diário



Segundo os dados da Marktest, referentes aos mês de Julho, foi este o panorama. Mais uma vez o PCP é o único partido, com grupo parlamentar, a ficar de fora. O líder da extrema-direita portuguesa sobe para segundo lugar. Entretanto, esse mesmo líder da extrema-direita portuguesa vem exigir um pedido de desculpas. Sim. Um pedido de desculpas. Razão: as notícias falsas, que andou a divulgar, não violaram direitos de autor. E é isto, senhoras e senhores.



Sousa Dias


A democracia liberal e o seu formalismo, a sua expressão meramente formal da vontade dos povos, é deveras tudo o que o Ocidente tem para propor ecumenicamente como ideia de realização política dessa vontade, como ideal político universal. Ora apresentar, como faz Allan Bloom, a universalização da democracia liberal e do capitalismo como triunfo por todo o lado da "dignidade dos homens" e "fim do problema das classes sociais" não é ideologia, nem mesmo cinismo, é cristalina estupidez.


em Grandeza de Marx - por uma política do impossível, Documenta, 2021, p. 77.

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Depois de ler "A Questão Comunista" de Domenico Losurdo, passei para "Grandeza de Marx - por uma política do impossível", de Sousa Dias. Até agora, e pelo que li em Sousa Dias, posso concluir que são dois autores antagónicos no que diz respeito à visão do marxismo, mas, principalmente, no que se refere à "questão comunista". Sousa Dias parece-me mais heterodoxo, influenciado por Zizek e Badiou, que têm promovido uma nova perspectiva sobre o comunismo, perspectiva essa que merece fortes críticas de Losurdo. Daí referir que Sousa Dias e Losurdo são autores antagónicos. Todavia, isso não significa que Losurdo seja ortodoxo.

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Reparo agora que ontem foi o Dia Mundial da Fotografia. A primeira máquina fotográfica que tive foi-me oferecida pelos meus Pais num Natal distante tinha eu doze anos. Era uma "Silver". Não tinha zoom. Não tinha focagem. Tinha apenas o lugar onde colocar o rolo e o botão para disparar. Não fotografei muito com ela pois era caro. E lá em casa o caro era caro. Um luxo. Tive ainda uma Kodak Colour que veio de França. Oferta de uns tios. Novamente: não fotografei muito. Só aos 20 comprei uma Nikon F65 com o dinheiro que economizei durante uma parga de aniversários e natais. Foi-me roubada em 2006 quando assaltaram a casa que tinha alugado para mais um ano lectivo. Só em 2008 comprei uma Nikon D50. E há três anos comprei a actual: uma Nikon D610. Nas passeatas que dou vejo sempre muitas e boas hipóteses de fotografias. A máquina é que fica em casa.

(...)


Caminho pela cidade. Procuro a sombra. A rua está vazia de gente. Carros passam. Poucos. A grandes intervalos. Dizem que é Agosto. Bobin diz algo algures sobre Agosto. Nunca fui de memorizar. Apenas de memórias.

§

Não sei por que razão lembrei-me de uma música. Às vezes acontece-me. Vinda do nada e sem aviso. Depois procuro lembrar a primeira vez que a ouvi. Ou quem a trouxe. 

§

Uma senhora varre o passeio junto à porta da sua casa. Maldiz as folhas secas e a merda de pombo.

Proletários de todos os países, uni-vos!





Não deixa de ser curioso que o PS, PSD, IL e Chega venham agora falar da necessidade de baixar os impostos. Todavia, quando tiveram hipótese de os baixar: votaram contra. 

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Mais de 1300 penicos e urinóis compõem a colecção do Museo del Orinal em Ciudad Rodrigo.


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Esta menina vem às vezes para o terraço cá de casa e é como se dela fosse. Progride lentamente e instala-se em toda a sua felinidade. Tentou há pouco comunicar com um outro anarquista. Todavia não se entenderam. Já se sabe: quando dois anarquistas se juntam há duas visões e fundam-se três movimentos. No caso em apreço: o adepto do anarco-comodismo não aceitou ser apelidado de "pequeno-burguês". A anarquista da foto foi então chamada (a falta de argumentos mais válidos) de "esquerdista". Este facto levou-a a montar acampamento contra a "pequeno-burguesia thoreauniana".

Christian Bobin


As técnicas modernas para ligar os indivíduos uns aos outros visam uma única coisa: reduzir ao extremo a demora entre um desejo e a sua realização. É uma forma angelical de negar a espessura e o peso do tempo.


em Auto-retrato com radiador, tradução de Luís Matos, Porto: Flâneur, 2022, p. 87.