Um poema de Elena Toumazi



A Toupeira e o Sol (excerto)



Não têm tempo para medir
as camadas de pó
que se acumulam e crescem
a cada dia
sobre a confortável cama
mobília de casa
janelas e portas.


Sobre limpar, nem uma palavra;
de algum tempo para cá as coisas entraram
num ritmo
que retira toda a esperança.
Permanecem sem falar
a olhar para os desconhecidos e novos objectos
desaprovados pelas suas
velhas coisas
espessas como pó.

“Arrumar um e depois outro” Um suspiro de admiração toma conta de mim. “O primeiro um pouco mais para a direita e ficará perfeito.” Mãos quentes cobrem o meu corpo os teus olhos ardem. “Muito bem. Agora muda os dois ao mesmo tempo. É necessária precisão e sistematização de movimentos”. Fragmentos do nosso poema atravessam o mar a voar. A água e a luz numa mesma união. Estes seres humanos ficaram esquecidos no meu caminho, construíram as suas casas junto aos meus pés, sentam-se a resolver exercícios ou a escrever música nas palmas das minhas mãos. E aquele que sobre os meus ombros ri alto e aquele que come o meu cabelo pensando que são malvas. Onde os coloco? Onde os deixo? Estes seres humanos têm belos olhos mas corpos pesados como ferro. Até os seus beijos ficaram gravados na minha pele quando me confundiram com um prado. Interrogo-me sobre como irei apagar os versos e as cores agora que estão de partida.
em Anthology of Cipriot Poetry, versão minha da tradução do grego para inglês de Amy Mims, Nicosia-Cyprus, 1974, pp. 214-215

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