Seis paisagens significativas
I
Um velho sentado
À sombra de um pinheiro
Na China.
Vê delfínios,
Azuis e brancos,
No limite da sombra,
Moverem-se ao vento.
A sua barba move-se ao vento.
O pinheiro move-se ao vento.
Assim se move a água
Sobre as algas.
II
A noite é da cor
Do braço de uma mulher:
Noite, a fêmea,
Obscura,
Perfumada e dócil,
Esconde-se.
Uma lagoa brilha
Como uma pulseira
Agitada numa dança.
III
Meço-me
Contra uma grande árvore.
Descubro que sou mais alto,
Pois consigo chegar ao sol
Com o meu olho;
E consigo chegar à beira do mar
Com o meu ouvido.
Ainda assim, não gosto
Da maneira como as formigas rastejam
Para dentro e fora da minha sombra.
IV
Quando o meu sonho estava perto da lua,
As pregas brancas do seu vestido
Encheram-se de luz amarela.
As plantas dos seus pés
Ficaram vermelhas.
O seu cabelo ficou coberto
De certos cristais azuis
Das estrelas,
Não muito distantes.
V
Nem todas as facas dos postes de luz,
Nem os cinzéis das longas ruas,
Nem as macetas das abóbodas
E altas torres,
Podem esculpir
Aquilo que uma estrela esculpe,
A bilhar entre as folhas da videira.
VI
Racionalistas, de chapéus quadrados,
Pensam, em salas quadradas,
A olhar para o chão,
A olhar para o tecto.
Limitam-se
Aos triângulos rectângulos.
Se experimentassem rombóides,
Cones, curvas e elipses ―
Como, por exemplo, a elipse da meia-lua ―
Os racionalistas usariam sombreiros.
em Collected Poems, London: Faber & Faber, 2006, pp. 64-66.
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