Versões: Boris Pasternak

 

Dos invernos passados, recordo
os primeiros dias de sol:
eram irrepetíveis e sempre
e sem fim se repetiam.

Pouco a pouco, com o passar
dos anos, há desses dias únicos
o terminar, quando nos parece
que o tempo se detém.

E a todos consigo evocar:
o inverno vai a meio e empapam-se
os caminhos, pingam os terraços
e sobre o gelo descansa o sol.

Como num sonho, os amantes
à pressa um para o outro caminham
e, com o calor, no alto das árvores
fumegam, dos tordos, os ninhos.

E os ponteiros, sem forças, do relógio
adormecem sobre a sua face.
E o dia passa a durar um século
e o abraço parece não terminar.



em Dias únicos – Antologia poética, tradução do russo para o espanhol de José Mateo e Xènia Dyakonova, Madrid: Visor Libros, 2012, p. 115

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