Calendário




Nos idos de 1996 comecei a vir a Lisboa duas vezes por ano passar fins-de-semana. A maior parte dos meus amigos tinha vindo para cá estudar. Foram anos de mudanças. O negro começou a ser ainda mais carregado na roupa que vestia. Cheguei a usar gravata negra todos os dias durante uns bons meses. Adiante. Os Dead Can Dance chegaram até mim pela mão dos This Mortal Coil. Mas foi o meu amigo Pedro Terreiro que a eles me introduziu de forma retumbante e contundente. Era a sua banda sonora preferida para a Lisboa que fechava o dia para dar lugar às noites onde nos assombrávamos. O Bairro Alto era para mim todo um admirável mundo novo de liberdade livre. Adiante. "Dead Can Dance" (1984) é o álbum de estreia do duo australiano. Entre outros conta com a colaboração de Peter Ulrich, multi-instrumentalista que conferiu ao álbum a densidade que o caracteriza. "Dead Can Dance" está muito longe de álbuns posteriores da banda onde a fusão de vários estilos musicais é a principal característica. O tema de abertura ("The Fatal Impact") dá o mote para os temas seguintes: "The Trial" tem uma linha de baixo hipnótica que é desenvolvida com a bateria estilo marcha militar; "The Frontier" é onde pela primeira vez se ouve a voz de Lisa Gerrard, mas é o ritmo frenético da percussão que prende o ouvido, como se demónios estivessem a ser exorcizados; já no tema "Ocean" é a voz de Gerrard que se destaca em toda a sua capacidade vocal; "Threshold", o meu tema favorito, é todo ele um exemplo daquilo que ficou designado, também na música, por "gótico". Aliás, este álbum de estreia dos Dead Can Dance não poderia ser mais gótico do que é.

Sem comentários: