Calendário (16)


Erskine Caldwell é um autor que me diz muito. Tenho a maior parte dos seus livros traduzidos e publicados em Portugal. Ainda me faltam alguns, mas ainda não perdi a esperança. É uma descoberta relativamente recente (se comparar com outros autores) com três/quatro anos.

O primeiro livro onde vi o seu nome foi O pregador. Existia em casa dos meus pais, numa daquelas edições de bolso da Europa-América. Todavia, não foi o primeiro livro que dele li. Esse foi Ilha de Verão. Li-o em duas noites. Fiquei impressionado pela sua escrita limpa, enxuta, no osso. Mas também pela maneira como o autor cria situações de tensão racial e sexual; e embora estas duas questões estejam presentes noutros romances, em Ilha de Verão são o motor da trama.

Uma outra característica dos romances de Caldwell é o retrato que nos dá da América profunda dos estados do sul. O autor conhece como poucos esses estados (o pai de Caldwell era um missionário que andava de terra em terra com a família) e retrata-os sem piedade, dando ênfase à pobreza (económica, social, cultural) que é estrutural, e, principalmente: branca. Caldwell representa, como poucos, o chamado "white trash", que ele considera congénito.

Ler Os Mil e Um Sinos do Sul dá-nos uma perspectiva completamente diferente, por exemplo, da eleição de Trump, apesar do livro ter sido publicado em 1967. É um livro fundamental para aqueles que querem entender as engrenagens do poder e as relações que este estabelece com a religião nos Estados Unidos da América. 

Faltam-me ler os seus livros de viagens e aqueles que escreveu durante a Segunda Grande Guerra Mundial quando, enquanto jornalista, esteve destacado na União Soviética, onde cobriu o cerco a Moscovo e a guerra de guerrilha dos "partisans".

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