Terry Eagleton


O que Marx contestava, entre outras coisas, era a crença dos utopistas de que podiam conquistar os seus adversários apenas através do poder da argumentação. A sociedade, para eles, era uma batalha de ideias, não um confronto de interesses materiais. Marx, pelo contrário, tinha dúvidas em relação a essa fé no diálogo intelectual. Ele tinha consciência de que as ideias que realmente cativam os homens e as mulheres surgem através da sua prática quotidiana, não através do discurso de filósofos ou sociedades em debate. Se quisermos saber o que os homens e as mulheres realmente pensam, temos de olhar para o que fazem, não para o que dizem.
     Segundo Marx, os projetos utópicos só serviam para distrair as pessoas das tarefas políticas do presente. (...) Como materialista, Marx desconfiava de ideias dissociadas da realidade histórica e achava que existiam normalmente boas razões históricas para essa separação. (...) O importante para Marx não é sonhar com um futuro ideal, mas resolver as contradições no presente que impedem a realização de um futuro melhor. Quando isso for conseguido, não haverá mais necessidade de pessoas como ele.


em Porque é que Marx tinha razão,  tradução de Jaime Araújo, Lisboa: Edições 70, 2021, p. 83.

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