Henrique Manuel Bento Fialho


Meursault


Cúmplice do cansaço e do sono, aceito

a indolência a que, por ignorância, dão
o nome de indiferença. É castigo deste sol
a censura acomodada do suor, os braços

de Maria como um beco sem saída. Contra
a indiferença do Mundo, temos o torpor
do homem condenado a viver a morte:
cão sarnento levado pela trela. Sublinho

que então tenhas aprendido: "um homem
que houvesse vivido um único dia, poderia
sem custo passar cem anos numa prisão".

Sou porém a mosca no rosto que não aceita
teres sido complacente para com o patrão.



em Estalagem, s/l: Medula, 2019, p. 26.

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