Venho dum desses lugares designado, por muitos, de Portugal profundo ou país real. E, durante muito tempo,
também era assim que eu pensava: vivia, sem dúvida, no Portugal profundo (porque estava longe de tudo o que via na
televisão); e no país real (pois tudo
o resto me parecia uma espécie de ficção, tendo em conta aquilo que chegava,
novamente, através da televisão). Mais tarde estes dois termos começaram a complicar-me
com os nervos. Agora: não os suporto e considero-os de um paternalismo
insuportável. Mas, o que mais me enerva, é o discurso sobre o “repovoamento do
interior” e balelas dessas. E enerva-me porque, a maior parte das vezes, esse
discurso é proferido por gente que deixou esse mesmo interior vetado ao
abandono durante anos (e que agora considera uma prioridade); e por outros que
o abandonaram mesmo (e falo do ponto de vista físico), mas que agora estão
muito preocupados com as suas raízes e as tretas do costume. E nem venham com a
conversa da qualidade de vida. O que é isso da qualidade de vida? Como se mede?
Quais são os critérios? Tudo tretas.
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