Um poema de Patrícia Baltazar
Contra-Casa
É justamente a casa que me derruba. Não saber dela nem onde procurar.
Nem ter pés, nem mãos, nem coração, nem dentes já para encontrar.
Desistir dela.
Não me poder acamar.
O quarto.
A cama.
Os meus livros separados de mim e todas as tragédias que trago comigo.
Descansar em bolor. Tossir à noite.
A cama não tem tecto. Canto-me para embalar enquanto o vento.
Enquanto o mistério.
Tudo ocupado.
Tudo fora.
Não sair pela janelíssima é regra imposta pela constituição da casa.
De mim para o horror disto. Para os outros. Eu e a tentativa.
A casa derruba em qualquer que seja a instância.
Estilhaços.
Casa é o que resta.
O que acaba por acontecer.
em Casa (antologia), Coimbra: do lado esquerdo, 2016, p. 66.
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