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As críticas ao movimento operário, inscritas em Manifesto Contra o Trabalho, deixaram-me bastante pensativo, pois sempre fui um defensor do movimento operário, não fosse eu filho de um operário fabril com ligações muito fortes ao Sindicato dos Lanifícios.
Essas mesmas críticas passam por acusar o movimento operário de assumir a herança do absolutismo, protestantismo e iluminismo, ao reivindicar também o orgulho do trabalhador, bem como o direito ao trabalho e a obrigação de trabalho para todos. Os subscritores do referido manifesto acusam, ainda, o movimento operário de assumir a tradição burocrática da administração dos indivíduos na sociedade do trabalho, tendo como principal objectivo o trabalho a qualquer preço.
Não é indiferente a esta tese a ideia de que a esquerda política sempre defendeu o trabalho com particular fervor: elevou-o ao estatuto de essência do Homem, opondo-o ao capital, na perspetiva de que o escândalo não é o trabalho em si, mas sim a exploração do trabalho pelo capital. Tal facto culmina nos chamados “partidos dos trabalhadores”, que procuram libertar o trabalho, e não libertar do trabalho.
A ideia de libertar do trabalho está intimamente relacionada com a origem do conceito. Na maior parte das línguas europeias, trabalho significa, originalmente, uma actividade do homem sem autodeterminação, isto é, do indivíduo enquanto ser dependente, servo ou escravo. “Laborare”, o termo latino para trabalho, designa, no geral, “cambalear sob uma carga pesada”, estando ainda associado a sofrimento e vexame do escravo. “Trabalho”, “travail” e “trabajo”, derivam do termo latino “tripalium”, que era uma espécie de jugo utilizado na tortura, bem como para castigar escravos e servos, ou qualquer indivíduo destituído de liberdade. Assim, podemos concluir que “trabalho” nunca pode ser considerado como uma actividade que liberte e proclame a autodeterminação do Homem. Antes pelo contrário: ele designa, isso sim, um destino infeliz e uma actividade de todos aqueles que perdem, ou perderam, a liberdade.

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