Se apenas amamos a luta e a
competição, como criar? Aí é que está a questão. Tão longamente procurado, o
segredo da criação é o mesmo que o do universal, tão longamente buscado. Os
dois descobrem-se ao mesmo tempo, exactamente aqui.
O do universal lê-se sobre o
baloiço. Ele marca a justiça, branca, e a paz renovada da partilha. Quem se
digladia não pode criar, mas repete uma conduta arcaica que mergulha as suas
raízes em comportamentos selvagens ou animais. E como indefinidamente recomeça
a imitação destes comportamentos multimilenários, não inova nem encontra.
Já alguma vez ouvistes dizer que um
animal tivesse inventado? Fruto da luta pela sobrevivência limita-se a lutar
pela vida.
A
partilha só conhece línguas universais: uma, tão fácil como cair e sempre
repetitiva, produz o barulho caótico da guerra; a outra, rara, difícil e sempre
nova, dedica-se à criação cultural.
Ao estado de paz, única boa nova da
humanidade, sucede o nascimento da novidade; a promoção da singularidade
segue-se ao estado de paz, estranha raridade da nossa história
em Para
celebrar a partilha, tradução de José M. S. Rosa, Covilhã: Universidade da
Beira Interior, Colecção Artigos LusoSofia, 2008, p. 19.
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