Saí de manhã para beber a bica no lugar de sempre. Ao abrir a porta do prédio um bafo quente atingiu-me a cara. As árvores na alameda agitam-se ao sabor do vento, mas não há brisa fresca que se sinta. A noite até que nem foi má. Acordei várias vezes. Logo adormeci. Não me lembro de noites seguidas sem acordar. Nos últimos tempos têm sido, praticamente, inexistentes. E é nessas alturas que penso em cursos de escrita criativa. Em primeiro lugar: o termo curso é abusivo: concluo. Em segundo lugar: escrita criativa é um termo levado da breca: concluo. Depois penso no dinheiro que os promotores dos cursos levam às pessoas, com a promessa de serem, um dia, escritores, quando eles próprios (os promotores) têm dificuldade em ser escritores e frequentam cursos de escrita criativa promovidos por outros escritores. Escritores? Não: profissionais da escrita. Aí é que está a diferença. Só que depois dá-me o sono e adormeço.
2 comentários:
Oh! O seu adormecer é deveras interessante. Jamais me ocorria pensar nesse tema em tal hora ou pelo menos vê-lo dessa perspectiva de frequência: querer ser escritor. Até já ouvi uns programas de rádio onde as ditas escritoras são da sua opinião - são três - e promovem cursos ainda que lhe chamem vagamente outra coisa. Mas não se pode frequentar uma coisa dessas por exemplo só pelo desafio da escrita e de haver exercícios que se fazem e assim...é que elas também se referem aos seus alunos que publicam e ao orgulho que sentem por isso. Mas é que duvido mesmo que se aprenda a ser escritor por cursar escrita criativa (tb conheço uma mocinha que faz um pela net, até julgo que terá feito vários).
Mas exercícios de escrita é aliciante, vemos pessoas mais de perto. E escrevemos a mando. O pior é, como diz, que custam. E neste momento estou muitíssimo empenhada em canalizar os meus gastos para tarefas que me são ainda mais agradáveis. Os cursos que esperem.
Hummm...acordar durante a noite é aborrecido qb. Não lhe conheço remédio além de um comprimido que nos deslembre. De vez em quando. Convém não abusar.
Bom sono
Olá Manuel,
Formas de ganhar uns trocos prometendo a banha da cobra sem que exista banha. Ou melhor, a meu ver não se fabricam escritores. Mas hoje fabrica-se. A meu ver não se escreve verdadeiramente e dentro do que se intitule de arte por encomenda. Mas há quem o faça. A meu ver criatividade todos têm, só que uns têm-na mais limitada, e isso é como um elástico, esticas esticas mas chega a um ponto que não dá mais. Parte. Ou equiparemos à inteligência, há quem seja mais, há quem seja menos. Até se pode querer que um burro faça dressages. Pode-se querer. Mas... não.
Estremeço sempre que ouço/leio: "curso de escrita criativa" e uma série de alminhas a achar maravilhoso e que ao tirar o curso se tornará num magnífico escritor. E lá vão gastando uns tostões a acreditar em milagres.
A verdade é que claro que devem fazer o que acham por bem e que os motive. (sem ironias aqui) mas eu cá acharia muito mais interessante recriar-se uma espécie de grupo surrealista onde se brincaria à escrita automática conjunta ou outras tantas brincadeiras enriquecedoras e interessantes. Mas isto sou eu com a mania de pensar demasiado no que não interessa. Só que durmo. Penso de dia.
Cumpts,
Inês G.
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