António Franco Alexandre
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Não quero ser quem sou, é evidente;
antes monstro qualquer com ar de gente
do que este tronco de árvore daninha
onde repousam ninhos de fantasmas
e brilham finos dentes de duendes.
Antes ser, no ar frio, nuvem que voa
branca de não ser nada, para leste,
do que esta sombra humana que me deste
sem dimensão nem cor, nem sábia hipnose,
nem o fulgor vulgar dos ectoplasmas.
Na pele esburacada já deitaram
semente microscópicos venenos;
vou-me deixar levar, por mão de verme,
antes que à luz do dia possas ver-me.
em Duende, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 34.
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