Discos pedidos (139)




Pondero a possibilidade de Bach não ter tido gatos, tal é o espanto e a agitação de Malick: o gato ao ouvir os primeiros acordes dessa arte que é a fuga. Mas depois, passado o primeiro Contrapunctus, ajeita o corpo ao tapete, fecha os olhos. As orelhas, por vezes, agitam-se um pouco. Parece que procuram os sons que lhe podem estar a escapar e que poderão tornar a obra de Bach incompreensível. Mas a verdade é que o sol lhe dá em quase todo o corpo e a minha mão sobre o dorso fá-lo ronronar. Lá fora são os risos de uma criança que se ouvem, mais o chilrear dos pássaros (andorinhas? pareceu-me hoje ver andorinhas) que ainda assustam Malick: o gato, habituado que está ao sossego e segurança do interior da casa. Por agora continua de olhos fechados, seja à conta do sol, ou de Bach.

2 comentários:

bea disse...

Malick é o sortudo de um gato. Tem sol, música e carinho. Há muita gente com menos.

manuel a. domingos disse...

há muita gente com muito menos. embora digam que o sol, quando nasce, é para todos