A técnica de gestão do tempo e da atenção
associada ao multifuncionalismo (multitasking) não representa qualquer
progresso civilizacional. (…) O multifuncionalismo é, com efeito, amplamente
praticado pelos animais em estado selvagem. Trata-se de uma técnica de atenção
indispensável à sobrevivência dos animais na selva. (…) O multifuncionalismo,
por um lado, e certas atividades como os jogos de computador, por outro,
produzem uma atenção ao mesmo tempo ampla e pouco profunda, semelhante ao
estado de alerta dos animais selvagens. (…) Os mais recentes progressos da nossa
sociedade e a mudança estrutural da atenção aproxima cada vez mais a sociedade
humana da vida selvagem. (…) O desejo de uma vida feliz, associada a relações
interpessoais também elas felizes, dá lugar a uma mera preocupação pela
sobrevivência.
em A Sociedade do Cansaço, tradução de Gilda Lopes Encarnação, Lisboa:
Relógio D’Água, 2014, pp. 25-26
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