o teu corpo sabia tudo dos incêndios
que lavraram cartago e as velas brandas
que cortavam as noites mortas de kavafis
sabia dos verões que tinham crescido
na vizinhança surda do pânico
sabia como dói a água
que nasce dentro
sabia onde eu no princípio
e onde a luz nunca demorava
ouves a terra onde chegámos
ainda antes do corpo
ouves o sopro de pedra das palavras
o voo Deus dos gestos
a substância e carne do silêncio
deita comigo o nunca
e leva a madrugada no teu sangue
em zona de perda, livro de albas, Vila do Conde: Objecto Cardíaco, 2006, p. 15.