Esta foto tem quatro anos. Foi tirada numa rua de Évora no dia quinze de Maio de dois mil e dez. Os óculos, as calças, a camisa e o cabelo já não existem. Os óculos partiram-se. As calças rasgaram-se. A camisa deixou de servir o seu propósito. O cabelo foi rapado. Restam, apenas, o casaco, as sapatilhas, a barba-de-três dias. O tempo sempre foi assunto que me preocupou. A sua passagem. O facto de nada podermos fazer contra. Muitos dizem para não me preocupar com isso, pois nada há a fazer contra aquilo que é inevitável; que não devo perder mais cabelo a pensar nessas coisas. A verdade é que penso. Não consigo evitar. No outro dia, enquanto relia Pela Estrada Fora (livro que me tem acompanhado nestas últimas semanas), fui reparando nas frases que tinha sublinhado. Não sei se hoje sublinharia as mesmas frases, mas algumas delas ainda me dizem muito. Posso concluir que o tempo não passou por elas. Ou, se passou, não se fez sentir. Ou, como é costume dizer, envelheceram como o bom vinho. E parece que envelhecer como o bom vinho não é assim mau de todo. Pena não sermos bom vinho.
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