O Cacém não é uma cidade. É uma coisa em forma de cidade. À noite corpos vagueiam pelas ruas. Vaguear não é o mesmo que andar. E aqueles corpos vagueiam. Corpos que parecem procurar outros corpos, ou uma alma que lhes valha. A noite parece ser mais longa naquele lugar. Respira-se mal e há demasiado ruído. No andar de baixo há alguém acamado. Por vezes tenta comunicar. Mas só consegue emitir um som gutural, que em nada se assemelha a palavras. Mas alguém aparece e lhe dá algum conforto com palavras meigas. A noite só ainda vai a meio. Nem a poesia salva.
1 comentário:
Vivi três meses no Cacém, entre trocas de casas. O que aqui só vem ao caso para reforçar o teu post (e o que já escreveste sobre o Cacém - antes fosse Manchester, quanto muito há hip-hop)e que acabaram por ser três meses porque eu tinha mesmo de sair dali (creio que tu lá estiveste uns meses por estares lá a dar aulas). E, mais que isso, por causa daquelas(desoladas) noites. Bem sei que há gente que gosta de morar ali(conheço), mas o Cacém é mesmo o lugar mais feio onde eu alguma vez estive. Aquilo não se faz. É desumano. É a noção perfeita de desarmonia e total desleixo e falta de sentido mínimo de estética (os bairros de lata não podem ser para aqui chamados). E o ruído do trânsito ainda é pior que em Lisboa.
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