Um poema de Paulo Pais


Difícil atravessar os dias
quando a chuva se mostra à beira da água
as árvores se alongam pelos olhos e ninguém
à volta nos conhece a mão

outro corpo seria preciso que não este
avençado no turismo do coração
torto no declive da música

olhos que apalpassem o caminho das palavras
voz para além da que se perde
no bordado do tédio

outra luz para o recesso
se a beleza condescendesse


em Gravador de chamadas, Porto: Campo das Letras, Colecção Aprendiz de Feiticeiro, nº. 26, 1997, p.49.