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No outro dia, em conversa com amigo recente, fui chamado à atenção para as semelhanças entre o início de Alegria Breve (Vergílio Ferreira) e o famoso começo de O Estrangeiro (Albert Camus):

Enterrei hoje a minha mulher – porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira. Levá-la para o cemitério, e como? Fica longe.

Vergílio Ferreira, Alegria Breve, Bertrand: 7ª edição, p. 9.

Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: «Sua mão falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames». Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.

Albert Camus, O Estrangeiro, Livros do Brasil, p. 47.

É sabida a admiração de Vergílio Ferreira por Camus. Maior era ainda a sua admiração por Malraux. Alegria Breve é publicado 16 anos depois de Mudança, romance que marca, de forma abrupta, o corte de Vergílio Ferreira com o movimento neo-realista. Aparição também já tinha sido publicado. Vergílio Ferreira há muito que se afirmava como uma voz avessa a engajamentos um tanto ou quanto oportunistas. O seu compromisso era com o Homem e não com Movimentos. Com Alegria Breve (romance duro e que requer, da parte do leitor, uma predisposição diferente, em comparação com outros romances do autor), Vergílio Ferreira procura fincar pé no território do Existencialismo. Daí, talvez, a curiosa semelhança.

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