nada os meus olhos
deixarão na cinza
das vastas folhas
envidraçadas: nem
o astrológico número das
horas
autorizadas pela
autoridade e a sua penumbra.
a «penumbra da
autoridade» vem vestida
de muitos horizontes com,
aqui ou além, um barco
de velas estilhaçadas, ou
a capa de um livro
de viagens na vitrina.
então o amor mistura-se
com as coisas breves,
os pássaros, o rumor dos
alicates na gaveta branca.
foi esta a sua história? esta
canção pertence-lhe?
a «greve» alourou-lhe as
sobrancelhas? este olhos
têm o plástico ao
contrário. e o ruído
das torneiras no balde,
mesmo
à beira do precipício,
é um inconveniente que
convém manter
sob vigilância.
em Poemas, Lisboa: Assírio & Alvim, 1996, p. 83.