Só o cinismo nos pode salvar
A vida, sem dúvida alguma, vale a pena ser vivida. Seja com um olhar pessimista sobre as coisas; seja com um olhar optimista. Mas vivê-la.
Podemos optar por fazê-lo apegados a bens materiais ou imitar os cínicos gregos ou os cínicos modernos. É claro que na Antiga Grécia era muito mais fácil ser cínico, pois a “sociedade do espectáculo” ainda não existia e os mecanismos de opressão a ela associada tão pouco.
O cinismo grego deu lugar ao cinismo moderno, isto é, àquele que hoje conhecemos e que tem uma enorme carga negativa. Acredito que a o cinismo moderno, a indiferença, é a única coisa que separa o Homem da loucura ou do assassínio em massa. O cinismo é aquilo que nos salva; é a única saída.
A questão é que optar por esta posição, por esta via – a do cinismo –, é muitas vezes algo que não é feito em plena liberdade, pois toda a escolha (por mais difícil que possa ser) tem de ser sempre tomada em liberdade. O cinismo é induzido.
Diariamente, somos bombardeados com informação e mais informação (muitas das vezes inconsequente), que se torna ruído devido ao excesso. Esse ruído, essa informação em excesso e inconsequente, torna o homem indiferente; induz no homem essa indiferença. Assim, o homem não se torna cínico em plena liberdade.
Retirada a liberdade de escolha ao homem, os mecanismos de opressão (Estado, Media, Indústria da Moda, entre outros) conseguem “moldá-lo” a seu belo prazer, induzindo no homem a ideia “eu sou indiferente porque foi a escolha que fiz”. Mas isso não é verdade.
O homem é indiferente porque essa indiferença lhe foi induzida. Este género de indiferença é perigoso, porque alienante.
O cinismo – enquanto escolha feita em consciência e liberdade (repito: liberdade) – ajuda a separar o trigo do joio. Ele ajuda a distinguir aquilo a que devemos ser indiferentes ou não. O cinismo, assim, é uma arma contra a alienação. E é isso que o cinismo combate: a alienação.
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