Crítica Literária: o vazio (3)
Há, ainda, o relativo consenso em torno dos livros que são alvo de crítica literária. Parece que nenhum crítico literário quer ferir susceptibilidades. A título de exemplo – e falando do caso português –, os livros de António Lobo Antunes. Poucos são os críticos literários que “arriscam” uma crítica negativa a um livro de António Lobo Antunes. Recentemente, penso que só Pedro Mexia o fez. Alguém curioso pode verificar o que digo: basta numa livraria folhear, com alguma atenção, o livro António Lobo Antunes: A Crítica da Imprensa.
Atrevo-me a dizer que falta alguma “honestidade intelectual” (expressão que abomino, mas que, neste caso, tenho de utilizar) à crítica literária portuguesa. Novamente, e a título de exemplo, o livro 2666 de Roberto Bolaño. O consenso generalizado em torno desta obra de Bolaño roçou o ridículo. Num texto publicado a 31 de Outubro de 2009 (no blogue Antologia do Esquecimento), Henrique Manuel Bento Fialho dá conta da lamentável revisão a que o livro de Bolaño foi sujeito. Não me lembro de ler a nenhum crítico literário “encartado” uma referência em relação a isso. Muito pelo contrário. E, daí, talvez se entenda o silêncio.
A bem da verdade, actualmente, a crítica literária em Portugal não existe, porque não é praticada. Falta-lhe algo fundamental: o contraditório.
10 comentários:
estou a gostar desta série
e, isto é tão verdadeiro: "a única função do poeta devia ser escrever poemas, ler poemas e pouco mais."
e não no sentido de sequer ressalvar as necessidades básicas mas de, enfim, resumir-se à sua insignificância :p
esta série "Crítica Literária: o vazio" termina aqui.
a série "Ocupação do espaço" irá continuar :D
«Não me lembro de ler a nenhum crítico literário “encartado” uma referência em relação a isso.»
Também não me lembro, mas recordo-te que essa tradução foi premiada pela Casa das Américas e que do juri fazem/fizeram parte... Quem?
é verdade! tinha-me esquecido desse facto.
o júri: Vasco Graça Moura, presidente do júri, Francisco Bélard e Annabela Rita.
«2666» foi editado por quem?
pela Quetzal e Francisco José Viegas já era Secretário de Estado da Cultura quando o prémio foi atribuído. mas é claro que antes era o "patrão" da Quetzal
Bom, não podemos pôr de parte a possibilidade da existência de uma edição corrigida/revista e, já agora não respentando o AO, ter sido a premiada, não é verdade?
respeitando *
pois, não sei. se isso aconteceu, se o "livro" premiado foi uma edição revista/corrigida (não tendo por isso sido o livro que chegou ao comum dos leitores) penso que a situação é grave. mas já nada me espanta
e dói-me tanto, isso do "encartado"... afinal, quem encarta quem?
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