Naufrágios: apontamentos sobre Thomas Bernhard (8)


Outra questão que se levanta com a leitura de Thomas Bernhard é a sensação de estarmos sempre a ler o mesmo livro, a ler a mesma “história”. Tal facto não deve ser tido como um “defeito”. Há em Bernhard todo um “programa de escrita”. Mas que programa é esse? Bernhard parece pregar sermões. Só que não são sermões morais ou moralizantes. Antes consciencializantes. Na peça de teatro Simplesmente Complicado, Bernhard dá-nos a conhecer as obsessões, traumas, angústias de um velho homem enclausurado na sua própria casa, que cria e recria à sua imagem e semelhança. O personagem debate-se com a doença, a velhice e a proximidade do fim. Bernhard coloca o dedo na ferida: a loucura está mais perto de nós do que aquilo que pensamos; rapidamente se pode apoderar do nosso corpo e mente. Simplesmente Complicado é uma alegoria à nossa frágil e perene condição humana.

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