Não sei como nem quando vi uma imagem de Santa Teresa D’Ávila. Não lhe fiz muito caso. Depois, uns anos mais tarde, o seu nome veio novamente ter comigo através de Vergílio Ferreira, num dos seus Conta-Corrente. Vergílio Ferreira referia-se a alguma poesia da Santa como erótica na sua relação com Deus. Fiquei intrigado. Uma Santa a escrever poesia erótica na sua relação com Deus? Tive de investigar. Fui até à Biblioteca Municipal e requisitei A Seta de Fogo. O misticismo de Santa Teresa D’Ávila pode, sem dúvida, ser confundido com erotismo. Santa Teresa D’Ávila escreve em fogo e com fogo: «Dai-me, pois, sabedoria,/ou, por amor, ignorância;/dai-me anos de abundância,/ou de fome e carestia;/dai trevas ou claro dia,/revolvei-me aqui ou ali:/Que quereis, senhor, de mim?» (em Obras Completas). A sua poesia é de uma força extraordinária. A sua prosa, para quem a leu, deve ser digerida lentamente. Cioran sabia disso e leu-a com atenção. Santa Teresa D’Ávila, a par com São João da Cruz (ambos Doutores da Igreja), são quase Santos esquecidos. E poetas também.
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