Kierkegaard



O primeiro livro que lhe li foi Diário de um Sedutor e durante muito tempo procurei seguir à risca aquilo que lá vinha. Falhei. Em relação ao falhanço, penso que Kierkegaard não ficaria aborrecido. Talvez ele também nunca tenha vencido em muita coisa. Mas a primeira vez que lhe ouvi o nome foi durante o meu 11º ano. O meu professor de Filosofia de então devia ter lido Temor e Tremor e aquilo ficara-lhe. Por vezes falava em Abraão e no sacrifício do seu filho. Depois ficava em silêncio e vagueava pela sala. No 12º ano tive a oportunidade de estudar alguma da filosofia kierkegaardiana. E como tinha explicações de Filosofia num sótão aquecido pela braseira eléctrica que, aos nossos pés, também aquecia a nossa vontade de filosofar como Kierkegaard, ficou-me o nome na memória e alguma da sua filosofia: «Pela minha parte, não me falta coragem para pensar um pensamento no seu todo. Até agora, nenhum receei; houvesse eu de me defrontar com semelhante pensamento e tenho esperança de ter no mínimo a sinceridade de dizer: temo este pensamento, faz gritar algo em mim, nem sequer quero pensar nele; se eu ajuizar mal, sem dúvida que o castigo não tardará.» (Temor e Tremor, p. 83).

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