Hino a Satã
Tu que és apenas
uma ferida na parede
um golpe na fronte
que leva lentamente
à morte.
Tu que ajudas mais os fracos
do que os cristãos
tu que vens das estrelas
e odeias esta terra
onde moribundos descalços
dão as mãos dia após dia
procurando entre a merda
a razão de viver
já que nasci do excremento
amo-te
e adoro depositar sobre as tuas
mãos delicadas as minhas fezes
O teu símbolo era o veado
e o meu a lua
que a chuva caia sobre
os nossos rostos
unindo-nos num abraço
silencioso e cruel tal como
o suicídio, sonho
sem anjos nem mulheres
completamente nu
menos do teu nome
e dos teus beijos no meu cu
e das tuas carícias na minha careca
rociaremos com vinho, urina e
sangue as igrejas
presente dos reis magos
e debaixo do crucifixo
uivaremos.
Leopoldo María Panero, «Himno a Satán», em Poemas del manicomio de Mondragón, Madrid: Ediciones Hiperión, 4ª edição, 1999, pp. 53-54.
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