Al Berto



Não tive a sorte de o ver dançar no Incógnito. Tenho a sorte de ter a primeira edição de O Medo (Contexto, 1987). Ainda traz todas as dedicatórias, tanto as de abertura como as dos poemas. Parece que depois as retirou. Lá teria as suas razões. Lembro-me que foi companhia de um Verão. Andava com ele para todo o lado. Devia ter 15 ou 16 anos. Lembro-me que me impressionou muito a fotografia da capa. E os textos, principalmente os dos primeiros livros. Lembro-me que fiquei chocado com algumas passagens, aquelas que falavam em esperma seco nos lençóis – e coisas desse género –, nos engates de miúdos de rua. O meu primeiro livro tem como abertura uma passagem do Apocalipse segundo S. João e versos de Al Berto: «é no silêncio/que melhor ludibrio a morte». Penso que é assim; cito de memória. Al Berto é daqueles poetas que ficaram em mim. Nunca lhe li a prosa (Lunário, O Anjo Mudo…). Fiquei-me pela poesia. Sim, lembro-me que foi assim.

2 comentários:

Fernando Dinis disse...

Eu, felizmente, também tenho essa edição, com a fotografia do Nozolino. Li-o com a mesma idade que tu, e a estranheza era tamanha, embora o fascínio prevalecesse. às vezes serve-me de Bíblia. A lombada amarela chama-me várias vezes. Abro o livro ao calhas, e sorrio sempre.

João Luís Barreto Guimarães disse...

"o meu tijolo", chamou-lhe o Al Berto, na mesa de café onde assinou a minha cópia. A mesma onde a malta do Orfeu se sentava a tomar uma bica, na Brasileira. Foi a única vez que estive com ele...