And so the sea
Mark Hollis
Começo a ter, cada vez mais, pouca coisa para dizer. E, verdade seja dita, são já poucas as coisas que digo. Poderia dizer que a cidade me consome, mas não é verdade. Consome-me mais o alto da Serra, a Vila deserta de gente a morrer todos os dias, a ausência daqueles que me foram. Há quem procure o ar leve do campo. Eu prefiro o da cidade, pois é-me mais puro. E não me venham falar da indiferença daqueles que connosco se cruzam. A verdade é apenas esta: são eles que me são indiferentes. E eu gosto disso assim. Gosto apenas do ocasional cumprimento de circunstância no elevador do prédio. Nada mais. Aprecio a privacidade que consigo ter dentro e fora de casa. Gosto que não me façam perguntas como "então que tal essa saúde?", "como andas?", "o que tens feito?", "onde estás agora?". A cidade dá-me isso tudo. E muito mais. Gosto da sua desumanização. É esse o meu conforto.
2 comentários:
Mais do que a frustração de sentir que pouca coisa tenho para dizer, sinto o desconforto de perceber que, cada vez que aqui venho, muitos dos textos que leio envergonham o que algum dia poderia escrever. Um abraço.
Caro Anónimo.
Abraço
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