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Somos um país de autores impensáveis. Isto porque não os pensamos. De Camões ficou-nos, apenas, o olho que perdeu pela grandeza do império. De Bocage as anedotas. De Eça as frases feitas. De Vergílio Ferreira o frete de o ter lido na escola. De Saramago a censura à-sousa lara, o exílio, o Nobel que fica tão bem na estante e dizer que não sabe pontuar. De Lobo Antunes as croniquetas, que toda a gente diz ser o melhor dele porque, na realidade, quase ninguém tem paciência para ler um romance seu até ao fim. De Torga ficou Os Bichos, porque também houve muitos que apanharam com eles na escola. Depois há os outros, aqueles que todos os anos escrevem três livros e publicam cinco. Aqueles que estão sempre no topeténe ou no topemais ou, apenas, no top. Aqueles que sufocam as grandes superfícies onde se vendem livros. Esses são os mais impensáveis de todos. Porquê? Porque se o leitor os pensasse, os pensasse realmente, nunca mais lhes compraria um livro. 

1 comentário:

Diogo Almeida disse...

a velha história de Maomé e a montanha.