Um poema de Cristina Campo


Sindbad


O ar de dia para dia se adensa em redor de ti
de dia para dia consuma minhas pálpebras.
O universo cobriu o rosto
sombras dizem-me: é inverno.

Tu no inocente espaço onde se embalam
ilhas negligentes, eu no terror
dos lilases, numa labareda de rolas,
sobre a suave, doméstica estrada da loucura.

Carrega-me cânhamos, azeitonas
mercados e anos... Eu não baixo pestanas.
Meia-noite virá, o primeiro grito
do silêncio, o tão longo recair

do faisão entre as asas.


em O Passo do Adeus, tradução e prefácio de José Tolentino Mendonça, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 61.

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