É prática corrente a reivindicação da transposição fílmíca de textos literários fazer-se a partir do critério da fidelidade, como se este fosse capaz de validar todos os fenómenos inerentes ao processo de adaptação de textos literários para o cinema. A procura de fidelidade não é factor de refutação quando assumida pela singularidade de uma adaptação, pois cada realizador pode optar por aproximar-se, ou não, das marcas semióticas do texto literário. Em caso de fidelidade, o realizador julgará ser uma transposição fiel daquilo que leu, entendido sobre o ponto de vista individual e pessoal. Por esta razão, muitos exemplos de adaptações cinematográficas ilustram concretizações diferidas de uma mesma obra literária.
Defender uma fidelidade literal ao texto literário supõe que a verdade de cada texto existisse e fosse possível através de uma leitura atemporal. Adaptar nestes termos seria um processo orientado por um conjunto de princípios objectivamente válidos, para aproximar o filme do livro, o que significaria uma actividade concebida como operação de descodificação racional e objectiva de um objecto literário, objecto esse que teria que ser entendido como uma entidade de sentido estável e verificável.
Exigir uma fidelidade literal na adaptação também consiste numa forma de fundamentalismo. Alguns escritores censuram e acusam o cinema cada vez que a adaptação não transmite o sentido literal do texto literário. Muitos chegam a negar a visão pluralista dos textos que escreveram, rejeitando a possibilidade de estes serem lidos de maneira diferente. Porém, esta pluralidade de leituras é incontornável, e o cinema pode ser usado na elaboração de leituras possíveis do texto literário. Assim, adaptar cinematograficamente um texto literário assume-se como um reescrita.
O que se coloca saber é se, em situação de adaptação cinematográfica, a literatura tem em si a legitimidade de resguardar possíveis relativismos do sentido textual do objecto literário. Uma resposta a esta pergunta obriga a uma separação entre o ler e o adaptar. Ora importa saber que o objecto literário deve ser sempre entendido como algo passível de várias leituras, daí a sua pluralidade. No que diz respeito ao conceito de adaptação, o fenómeno da adaptação está sempre ligado à relatividade e à criatividade: o realizador que adapta literatura distancia-se do leitor que a lê, pois redimensionou o livro para uma nova obra de arte. No entanto, muitas vezes a falta de fidelidade é propositada. Não esquecer a questão do mercado, pois a adaptação para cinema de textos literários dá normalmente lugar a operações de transacção comercial: a literatura negoceia a cedência ao cinema de direitos de autor. Qual seria a vantagem de uma fidelidade literal para o mercado literário? Não podemos esquecer que quando um texto literário é adaptado ao cinema a venda desse mesmo texto dispara em flecha, e tal não aconteceria se esse mesmo texto fosse literalmente adaptado ao cinema.
Defender uma fidelidade literal ao texto literário supõe que a verdade de cada texto existisse e fosse possível através de uma leitura atemporal. Adaptar nestes termos seria um processo orientado por um conjunto de princípios objectivamente válidos, para aproximar o filme do livro, o que significaria uma actividade concebida como operação de descodificação racional e objectiva de um objecto literário, objecto esse que teria que ser entendido como uma entidade de sentido estável e verificável.
Exigir uma fidelidade literal na adaptação também consiste numa forma de fundamentalismo. Alguns escritores censuram e acusam o cinema cada vez que a adaptação não transmite o sentido literal do texto literário. Muitos chegam a negar a visão pluralista dos textos que escreveram, rejeitando a possibilidade de estes serem lidos de maneira diferente. Porém, esta pluralidade de leituras é incontornável, e o cinema pode ser usado na elaboração de leituras possíveis do texto literário. Assim, adaptar cinematograficamente um texto literário assume-se como um reescrita.
O que se coloca saber é se, em situação de adaptação cinematográfica, a literatura tem em si a legitimidade de resguardar possíveis relativismos do sentido textual do objecto literário. Uma resposta a esta pergunta obriga a uma separação entre o ler e o adaptar. Ora importa saber que o objecto literário deve ser sempre entendido como algo passível de várias leituras, daí a sua pluralidade. No que diz respeito ao conceito de adaptação, o fenómeno da adaptação está sempre ligado à relatividade e à criatividade: o realizador que adapta literatura distancia-se do leitor que a lê, pois redimensionou o livro para uma nova obra de arte. No entanto, muitas vezes a falta de fidelidade é propositada. Não esquecer a questão do mercado, pois a adaptação para cinema de textos literários dá normalmente lugar a operações de transacção comercial: a literatura negoceia a cedência ao cinema de direitos de autor. Qual seria a vantagem de uma fidelidade literal para o mercado literário? Não podemos esquecer que quando um texto literário é adaptado ao cinema a venda desse mesmo texto dispara em flecha, e tal não aconteceria se esse mesmo texto fosse literalmente adaptado ao cinema.
3 comentários:
Concordo, muito bem visto.
Penso que a questão em que também temos de pensar é o que é, exactamente, ser literalmente fiel à obra literária. Há filmes excelentes que calhou serem literalmente fiéis a um livro também excelente (Lolita do Kubrick, por exemplo, que, tanto quanto me lembro, respeita toda a ordem narrativa e todas as personagens do livro). Há outros filmes excelentes que são fiéis por manterem a qualidade do livro, respeitarem a psicologia das personagens, mas não seguem o livro literalmente (Trono de Sangue, Ran). No entanto, estes filmes adaptam o livro mantendo todos os seus "pontos fortes", digamos assim. Não será isto também uma fidelidade literal?
Há muitas formas de se ser fiel ao livro, acho eu, mesmo dentro da lógica de mercado.
Ainda não fui ver o Ensaio sobre a Cegueira. É fiel?
Rita: não li o Ensaio Sobre a Cegueira, nem ainda vi o filme. a imagem é apenas a título de exemplo, pois já lí por aí alguns textos em que a adptação do texto é colocada em causa por falta de fidelidade.
li o ensaio sobre a cegueira e admito que é uma obra grandiosa, demasiado bem escrita, daí que o realizador posso ter ficado fascinado com o texto e tenha decidido adapta-lo de uma forma literal.
aind anão vi o filme mas acho que pode ser difícil adaptar uma visão muito pessoal de saramago.
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