Excelentíssima Senhora Ministra da Educação:
A senhora não me conhece, mas sou um dos muitos professores deste país, com a particularidade de ser professor contratado, o que faz de mim – perdoe-me o português – pau para toda a obra.
Em oito anos de serviço (este ano lectivo é o meu oitavo) foram oito as escolas que conheci, oito as vilas ou cidades por onde passei. Ministros da Educação foram vários: Júlio Domingos Pedrosa da Luz de Jesus (3 de Julho de 2001 a 6 de Abril de 2002), José David Gomes Justino (6 de Abril de 2002 a 17 de Julho de 2004), Maria do Carmo Félix da Costa Seabra (17 de Julho de 2004 a 12 de Março de 2005) – penso que esta senhora é aquela que ficou entre os 100 portugueses mais importantes de todos os tempos, não sei bem como – e agora Vossa Excelência.
Escrevo-lhe esta carta por uma única, egoísta e simples razão.
Ontem, enquanto carregava a mala do carro com tudo aquilo que me é essencial, pensei: o que pensaria a Senhora Ministra se, de um dia para o outro, lhe dissessem que o seu Ministério passava a ter sede em Moura, por exemplo, e que tinha que se apresentar no dia seguinte ao serviço? o que pensaria a Senhora Ministra se lhe dissessem que deixaria de ser Ministra da Educação e perderia qualquer hipótese de algum dia voltar a ser, se recusasse ir? o que pensaria se deixasse a sua casa, a sua família, os seus amigos? o que pensaria se lhe dissessem que não ia usufruir de qualquer tipo de ajudas de custo para as viagens e que a renda da casa era paga do seu próprio bolso? o que pensaria se lhe dissessem que para ser Ministra da Educação tinha que se submeter a três exames (cada um deles de carácter eliminatório)? o que pensaria se fosse avaliada de um modo injusto, com numerus clausus que lhe impedissem a progressão na carreira? (eu sei que esta última pergunta não faz grande sentido no seu caso, pois: o que há para lá de Ministra da Educação? Ministra da Presidência? da Administração Interna? ou apenas o regresso ao ISCTE?)
Não quero com isto dizer que a Senhora Ministra me pague as viagens ou a renda de casa ou que elimine todas as injustiças que ainda existem nesta profissão. Eu sei que o país está à rasca (mas, sinceramente, mais à rasca estou eu), que o défice é terrível e que os Senhores do Governo estão a fazer tudo e mais alguma coisa para inverterem a situação. Eu agradeço a preocupação e espero que tudo corra pelo melhor. Eu sei que a Senhora Ministra tem que pensar nos números que vai apresentar à OCDE. Eu sei que o Senhor Primeiro-Ministro depende muito de si para mostrar que o país é um país evoluído.
Por isso, Senhora Ministra, desejo-lhe a si o dobro daquilo que a Senhora Ministra deseja para mim e para todos os meus colegas.
Com os melhores cumprimentos,
A senhora não me conhece, mas sou um dos muitos professores deste país, com a particularidade de ser professor contratado, o que faz de mim – perdoe-me o português – pau para toda a obra.
Em oito anos de serviço (este ano lectivo é o meu oitavo) foram oito as escolas que conheci, oito as vilas ou cidades por onde passei. Ministros da Educação foram vários: Júlio Domingos Pedrosa da Luz de Jesus (3 de Julho de 2001 a 6 de Abril de 2002), José David Gomes Justino (6 de Abril de 2002 a 17 de Julho de 2004), Maria do Carmo Félix da Costa Seabra (17 de Julho de 2004 a 12 de Março de 2005) – penso que esta senhora é aquela que ficou entre os 100 portugueses mais importantes de todos os tempos, não sei bem como – e agora Vossa Excelência.
Escrevo-lhe esta carta por uma única, egoísta e simples razão.
Ontem, enquanto carregava a mala do carro com tudo aquilo que me é essencial, pensei: o que pensaria a Senhora Ministra se, de um dia para o outro, lhe dissessem que o seu Ministério passava a ter sede em Moura, por exemplo, e que tinha que se apresentar no dia seguinte ao serviço? o que pensaria a Senhora Ministra se lhe dissessem que deixaria de ser Ministra da Educação e perderia qualquer hipótese de algum dia voltar a ser, se recusasse ir? o que pensaria se deixasse a sua casa, a sua família, os seus amigos? o que pensaria se lhe dissessem que não ia usufruir de qualquer tipo de ajudas de custo para as viagens e que a renda da casa era paga do seu próprio bolso? o que pensaria se lhe dissessem que para ser Ministra da Educação tinha que se submeter a três exames (cada um deles de carácter eliminatório)? o que pensaria se fosse avaliada de um modo injusto, com numerus clausus que lhe impedissem a progressão na carreira? (eu sei que esta última pergunta não faz grande sentido no seu caso, pois: o que há para lá de Ministra da Educação? Ministra da Presidência? da Administração Interna? ou apenas o regresso ao ISCTE?)
Não quero com isto dizer que a Senhora Ministra me pague as viagens ou a renda de casa ou que elimine todas as injustiças que ainda existem nesta profissão. Eu sei que o país está à rasca (mas, sinceramente, mais à rasca estou eu), que o défice é terrível e que os Senhores do Governo estão a fazer tudo e mais alguma coisa para inverterem a situação. Eu agradeço a preocupação e espero que tudo corra pelo melhor. Eu sei que a Senhora Ministra tem que pensar nos números que vai apresentar à OCDE. Eu sei que o Senhor Primeiro-Ministro depende muito de si para mostrar que o país é um país evoluído.
Por isso, Senhora Ministra, desejo-lhe a si o dobro daquilo que a Senhora Ministra deseja para mim e para todos os meus colegas.
Com os melhores cumprimentos,
manuel a. domingos
4 comentários:
Pois. E há muitos que nem assim...O que prova o péssimo planeamento educativo deste país...
Saúde,
desejar o dobro significa carregar com duas malas.
fep
Apoiado a 100%. Esta carta devia seguir para o Ministério da Educação.
O que acho verdadeiramente grave nisto tudo, além das perspectivas miseráveis para o sistema educativo português, é o ataque e o desrespeito constantes à classe dos professores. Dantes, ser professor era digno e correcto - veja-se Vergílio Ferreira. Hoje em dia, ser professor é a ralé, é para onde vão os excedentes, é para quem quer mesmo ficar desempregado. Esta degradação da imagem do professor é absolutamente incompatível com uma educação exigente, e os constantes ataques do ME aos professores (porque são claramente ataques, quanto a mim), tratando-os a todos como uma corja de preguiçosos que precisa de pulso firme e de surreais avaliações (além de surreais, também desonestas), tudo isto, enfim, é porta aberta para futuras gerações que, na escola, aprenderão muito pouco. E sim, todos ouvimos falar de maus profissionais, de professores que sempre abusaram dos atestados médicos e que faltavam e quejandos, mas isso não justifica tomar a parte pelo todo, fechando os olhos aos bons profissionais e insistir em medidas ofensivas para com estes últimos.
Finalmente, só dizer que a falta de união entre os professores não ajuda - a miríade de sindicatos de professores que existe é talvez exemplo disso. Os professores universitários assobiarem para o lado, sem mostrarem grande solidariedade (de alguns ouço, inclusivamente, ataques declarados aos professores de secundário) também não ajuda de todo. Que fariam os professores do ensino superior se semelhante sistema de avaliação lhes caísse em cima?
Portanto, e para acabar, e mil desculpas pelo longuíssimo comentário, mas este assunto vai-me ao coração, já que tento ainda acreditar firmemente na educação (de preferência pública, de responsabilidade do Estado), concordo contigo, Manuel.
Professores de todo o Portugal, uni-vos.
totalmente de acordo
Eu , com quase 20 anos de serviço já conheci mais, muito mais de 30 escolas...
Enviar um comentário