Bartleby #3





(10)


Assim sendo, podemos dizer que existem dois tipos de escritores bartlebianos: aqueles que são por convicção e aqueles que são por imposição. Os primeiros são todos aqueles que preferem desistir de ser eles próprios para o mundo: ou deixam de publicar ou, publicando, deixam de aparecer em público. Os segundos são aqueles que, por razões estritamente comerciais e de procura, passam a ser bartlebianos, pelo simples facto de ninguém os ler: são desconhecidos, não vão a feiras do livro nem distribuem autógrafos, não vendem (ou vendem pouco).


(11)


Contudo, no segundo grupo de bartlebianos (os que são por imposição), há aqueles que conseguem deixar de o ser. Passam a ser autores conhecidos ou quase conhecidos. Um bom exemplo é Manuel da Silva Ramos. Bartlebiano por imposição durante muito tempo, quase ninguém conhecia os seus livros. Agora, que publica numa grande editora, os seus livros (publicados por essa grande editora) podem ser vistos numa qualquer livraria de um qualquer hipermercado.


(12)

«Bartleby é, sem dúvida, um dos mais excêntricos espécimens da raça humana, o mais próximo possível - tanto quanto as leis biológicas o permitam - de um espectro.» António Bento, em “I would prefer not to” – Bartleby, a fórmula e a palavra de ordem.

Sem comentários: