Bartleby #2


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O maior problema de todo o escritor bartlebiano é que não consegue ser bartlebiano na sua totalidade. Apesar dos esforços de J.D. Salinger para permanecer afastado do mundo das letras, os seus livros continuam a ser vendidos a um ritmo extraordinário. À Espera no Centeio é mesmo estudado nos Liceus dos Estados Unidos da América. Tratados continuam a ser escritos sobre o livro, cada um com a sua teoria para o significado da obra. O mesmo acontece com Thomas Pynchon. Sempre que um novo livro seu sai é logo vendido como pão aos famintos. A condição de escritor bartlebiano não deixa de ser uma falsa condição.


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Um comentário levantou uma questão importante: aqueles que deviam ser bartlebianos. Isto é: aquele que deveria publicar uma só obra e parar por aí. No panorama nacional lembro-me de um ou dois nomes. Pronto: três. É claro que não os vou aqui mencionar, mas há. No entanto, os leitores desempenham um papel muito importante na obra de um autor. São eles que decidem, neste momento, quem é escritor e quem não é escritor. A crítica, dos chamados críticos, pouco lhes interessa. Os críticos dizem que Miguel Sousa Tavares não é escritor? Os seus leitores desmentem os críticos num abrir e fechar de olhos. Os livros de Miguel Sousa Tavares são vendidos aos milhares, não como pão a famintos, mas como presentes para o Natal, dia do Pai, da Mãe, dos Namorados, do Trabalhador. São os leitores que decidem quem é bartlebiano ou não.


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«o verdadeiro bartleby nunca desiste de ser ele próprio; simplesmente desiste de ser ele próprio no mundo.» Sérgio Lavos em Auto-Retrato

3 comentários:

ana salomé disse...

esta série de reflexões está realmente muito interessante.

manuel a. domingos disse...

obrigado

Anónimo disse...

isso é que era bom
(serem os leitores a decidir quem é e quem não é...)

Bart Simpson