Sebastião Bugalho pela AD. Joana Amaral Dias pelo ADN. Será que também vai haver "confusão" desta vez?
meia-noite todo o dia
Throbbing Gristle - 20 Jazz Funk Greats (1979)
João Abel Manta
Fascistas mal enterrados começam a botar flor
Cartoon para Diário de Notícias, 31-08-1974
Tinta da china e colagem
Calendário
Há qualquer coisa que me escapa, mas de certeza que deve ser incapacidade minha. Vou por partes:
1. O Hamas ataca de forma bárbara e condenável Israel;
2. Israel invoca legítima defesa e ataca a Faixa de Gaza, arrasando por completo aquele território e cometendo genocídio sobre o povo palestiniano;
2.1. Nenhuma sanção económica, militar ou de qualquer outro género é imposta a Israel;
3. Israel ataca o consulado do Irão (anexo à embaixada deste país) em Damasco;
4. O Irão, invocando legítima defesa, lança um ataque sobre Israel;
4.1. O ataque é, na sua maioria, neutralizado pelas forças militares de Israel, com a ajuda dos Estados Unidos da América;
5. O Irão sofre, de imediato, novas sanções.
6. Os Estados Unidos da América concordam com o ataque israelita a Rafah, desde que o estado de Israel não volte a atacar o Irão.
E tudo isto escapa à minha compreensão.
Calendário
Nada como vir a um dos cafés do bairro para ficar a saber que, afinal, as maleitas que me afectam não são assim tão más. Nada como a relativização social das doenças.
Calendário
Os dados estão lançados. Candidatura preenchida e submetida. São 111 escolas, distribuídas pelos concelhos de Lisboa, Amadora, Oeiras, Cascais, Sintra, Vila Franca de Xira, Loures e Odivelas. Agora é esperar pelo resultado.
Scott Walker - Bish Bosch (2012)
A primeira vez que
ouvi Scott Walker, “The Drift” (2006) tinha acabado de sair e decidi ir até um
daqueles postos de escuta na Fnac. Senti um tremor no estômago quando o baixo
de “Cossacks Are” surgiu, seguido da voz de Walker naquele timbre a lembrar o
canto gregoriano. Pousei os auscultadores e afastei-me. Aquele som permaneceu
comigo o dia todo e os restantes. Mas tudo aquilo se foi entranhando e
entranhando, apesar do estranhamento inicial. Assim, se tivesse de caracterizar
a minha relação com a música de Scott Walker, principalmente a partir de “Tilt”
(1995), diria que é a mesma que tenho com a poesia: um desafio permanente, uma
procura de sentido e, muitas vezes, o ficar pelo caminho, umas vezes perdido,
outras possuído por uma inquietação. O mesmo acontece-me, por exemplo, com a
música de uns Trobbing Gristle, ou Coil. “Bish Bosch” (2012) encerra a trilogia
iniciada com “Tilt” e prosseguida em “The Drift”. As semelhanças com estes dois
álbuns são evidentes: blocos de som, num minimalismo industrial e marcial,
entremeados por momentos de silêncio e pela característica voz de Scott Walker,
que recita (não me atrevo a dizer que canta) pedaços de textos, que muitas
vezes parecem não estar ligados entre si: “Didn't you get enough attention at
home?//If shit were music/La da da, la da da/You'd be a brass band//Know what?/You
should get an agent, oh yeah, yeah/Why sit in the dark handling yourself?” (“Sdss1416+13b
[Zercon, a Flagpole Sitter]”). O ambiente criado é, no mínimo, perturbador e
não aconselhável aos mais sensíveis de ouvido, ou de estômago.
Já passaram
Por muito que me custe admitir: eles já passaram. Cabe agora fazer-lhes frente e derrotá-los. Ir à luta, custe o que custar. Já passaram. O importante, agora, é não deixá-los avançar.
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Sérgio Furtado, jornalista da CNN Portugal, referindo-se, há pouco, à morte de sete trabalhadores da WCK: "Como era noite não se viam os símbolos da associação e, portanto, não foi possível distinguir que carros eram o quê.". A sério, caro Sérgio Furtado? A sério? "Era noite"? A sério? Acredita mesmo que o "era noite" justifica o "engano"? Porra, que não há paciência.
Nirvana - Incesticide (1992)
Foram anos de festas em garagens nas traseiras de prédios na Guarda, que também por lá os havia. Eram, essas garagens, os nossos subúrbios, a nossa Seattle, um ponto de fuga para tudo o resto. Havia sempre alguém que tinha uma aparelhagem, ou um rádio com leitor de cassetes. Todos tínhamos camisas de flanela, calças de ganga rasgadas e só alguns cabelo comprido. Quando o primeiro de nós comprou "Incesticide", havia grande expectativa em relação a esse terceiro álbum da banda de todos nós. A fasquia estava alta, pois todos tínhamos ouvido "Nevermind" até à exaustão e depois um pouco mais. A linha de baixo de "Dive", primeira faixa do álbum, e aquela espécie de low-fi na produção (que lhe confere crueza), foram o aviso: preparem-se! As opiniões dividiam-se entre as pausas do mosh e para o traçadinho de vinho branco com sumo de maçã (que nunca faltava). "É muito bom!", diziam uns, "Nevermind é muito melhor!", outros repetiam. Uns poucos estavam mais atentos às letras, onde havia o combate ao machismo e ao papel da mulher numa sociedade patriarcal (é ouvir "Been a son" com atenção). Todos os temas eram mais rápidos, cinzentos, alguns estranhos ("Hairspray Queen"). O regresso dos Nirvana às raízes de "Bleach" agradava a uns e deixava outros desconfiados. Ninguém, é certo, ficou indiferente, principalmente depois de ouvirmos, de seguida, os três últimos temas do álbum: "An idea is what we lack, it doesn't matter anyways" ("Aero Zeppelin"); " Endless climb/I am blind/Why can't I hear?("Big Long Now"); "Beat me out of me (beat it, beat it)" ("Aneurysm"). Uma maravilha, digo eu hoje.
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Lembro-me de chegar ao Liceu. Agora, acreditem ou não: levava vestida uma grossa camisola de lã (feita pela minha Mãe a meu pedido) e umas calças de ganga bastante rasgadas. Um amigo chegou-se — o Kurt matou-se — e a minha boca de espanto. E lembro agora o dia, e a hora, em que o Luís Rasteiro colocou o seu rádio com dois decks na janela do quarto dos pais virado para o pátio e soou "Smell like teen spirit". O Luís aos saltos e logo eu. E pouco depois, muito pouco depois, aparece o Sr. Tó — tronco nu mais a tatuagem "Foxtrot Guiné" — que salta para o meio de nós e connosco começa aos saltos, ao mosh, quando nem essa nome ainda sabíamos que existia.
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Sou e sempre fui antimilitarista. Sou e sempre fui contra o Serviço Militar Obrigatório.
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Recentemente os Estados Unidos, através da Administração Biden, tentaram fazer-nos crer que estavam realmente preocupados com o genocídio que está a acontecer em Gaza. Kamala Harris chegou mesmo a dizer que qualquer grande operação militar em Rafah seria um “grande erro”. Israel prometeu "ter em conta" as preocupações dos EUA. Entretanto, há dois dias, os EUA autorizaram a transferência de 2.5 bilhões de dólares em material militar para Israel.
Carl Seelig
O seu alheamento em relação às cliques literárias causou-lhe sérios problemas financeiros, mas a idolatria que reina nesses meios é-lhe pura e simplesmente repugnante. Ela rebaixa o escritor, converto-o num mero engraxador de sapatos.
em Caminhadas com Robert Walser, tradução de Bernardo Ferro, BCF Editores, 2019, p. 21.
Suede - Suede (1993)
Em 1993 ainda tinha um walkman que comigo ia para todo o lado. Não lembro já quem foi o amigo que me gravou a cassete com o primeiro álbum dos Suede, mas sei que passei as férias de Verão a ouvi-lo em repeat e a desejar ser como Brett Anderson, que transpirava sensualidade e fazia suspirar as raparigas mais susceptíveis. Mas era a acidez da guitarra de Bernard Butler (que seria para Anderson o que Marr era para Morrissey) aquilo que mais sobressaía. Isso e o erotismo lírico das letras: "Well he said he'd show you his bed/And the delights of the chemical smile" (Animal Nitrate); "So slow down, slow down, you're taking me over/And so we drown, Sir we drown, stop taking me over" (The Drowners); "She sells heart, she sells meat/Oh dad, she's driving me mad, come see" (Metal Mickey); "I see you're moving, see you're moving like wildlife from the waist" (Animal Lover). Não sei quantas vezes ouvi, por exemplo, "Pantomime Horse", uma das músicas mais tristes de sempre. Trinta e um anos depois (é hoje o aniversário do seu lançamento), continua a ser um álbum com vitalidade, força e de uma contemporaneidade desarmante.
(...)
No calendário é Sexta-feira Santa. Longe vai o tempo da sirene da fábrica às três da tarde — dizem ser a hora em que Cristo morreu na cruz — e a vila toda parava num minuto de silêncio. Mais logo o Enterro do Senhor e o som das matracas a rasgar a noite.
§
O trompete de João Moreira deixa o tempo em suspenso. Nuvens prometem novamente chuva. Haverá grelos salteados e robalo assado no forno para o almoço. O gato dorme indiferente a isto tudo.
§
Não sei já a última vez que tive um pensamento bom sobre o mundo.
Calendário
Paulo Baldaia, há pouco na SICNotícias, sobre o nome de Eduardo Oliveira e Sousa para a pasta da Agricultura: "Espero que já lhe tenham dito que a terra não é plana.".
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Diogo Pacheco de Amorim irá receber, por mês e enquanto vice-presidente da Assembleia da República, o salário ilíquido de 4916,39€ (quatro mil novecentos e dezasseis euros e trinta e nove cêntimos). Pergunto: qual o salário ilíquido, segundo o CH, para "tacho"?
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Quando ouvi Burial pela primeira vez, (...) fui logo buscar o primeiro álbum de Tricky, Maxinquaye, como ponto de comparação. Não era apenas a utilização do crepitar do vinil, (...) a sugerir a afinidade. Era também a atmosfera dominante, a forma como a tristeza sufocante e uma melancolia balbuciada contaminavam um erotismo e um discurso onírico a sofrer de amores (...) a música de Burial invoca cenas urbanas sob um chuvisco permanente à maneira de Blade Runner (...). (1)
Ontem, enquanto descia a Almirante Reis (depois de vir da Flur, onde adquiri o álbum) senti isso mesmo. Havia um leve chuvisco permanente que às vezes se transformava numa chuva forte e intensa. Os edifícios sujos e velhos à minha volta, os aromas dos diferentes restaurantes, os passeios apinhados de gente que fala uma língua que não a minha (em todos os sentidos), mais o som da cidade. E eu a pensar "levo aqui a banda-sonora disto tudo".
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(1) Fantasmas da minha vida: Escritos sobre Depressão, Hantologia e Futuros Perdidos, tradução de Vasco Gato, VS, 2021, p. 81.