Terceira Elegia do Amante Fantasma
I
Como cera mole, consumidapor uma pálida chama, os meus diasgastam-se no arder da tua lembrança.Apenas iluminas o túnel de silêncioe o espanto indefinidoem que passo a passo vou entrando.Algo se agita no meu ser que ainda protesta contra a avalanche do esquecimento que arrasa atrás de si todas as coisas. Ah, pudesse então crescer e erguer-me, iluminar como uma lamparina alimentada pelo teu intenso azeite, numa poderosa e clara fogueira! Mas já nada vem até mim para me salvar da tristeza inerte que me sufoca. Grandes distâncias erguem finas névoas entre o teu rosto e os que aqui te esquecem. A tua voz é quase um eco e longe brilha o teu olhar.IITento surpreender a tua nua ausência, abro as portas sem avisar e acaricio as janelas quase abertas. Encontro as divisões desertas e sombrias onde o vazio congela os seus contornos ajustando-se à linha do teu corpo. É como um copo profundo e simples para beber a totalidade do lamento.IIITalvez não estejas aqui a dominar os meus olhos a comandar o meu sangue, a trabalhar nas minhas células, a provocar uma pulsação de trevas. Talvez não seja o meu peito a cripta que te guarda. Mas eu não seria se não fosse este castelo em ruínas que ronda o teu fantasma.em Rosario Castellanos, Material de Lectura, serie Poesía moderna, Universidade Nacional Autónoma do México, 2009, pp. 8-9.
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