Li por aí


Por um lado, têm consciência que os motins que se avizinham serão perigosos e destrutivos, mas por outro também sentem um ultraje a que nenhum político ou comentador saberá alguma vez responder. Sabem que no dia seguinte serão crucificados nas televisões por uma dúzia de cabeças falantes que projectarão naqueles quarteirões os filmes americanos e brasileiros que viram na Netflix, falando de traficantes de droga e de gangues que reinam sobre o bairro com uma mão de ferro, mas também sabem que é precisamente por isso que tantos daqueles jovens passarão as próximas horas a queimar tudo a que conseguirem deitar mão. Portugal inteiro tem uma palavra a dizer sobre as suas vidas sem nunca ter passado cinco segundos perto delas.

Luhuna Carvalho
Uma tarde tranquila no Bairro do Zambujal

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