Erik Olin Wright


      Em primeiro lugar, o princípio igualitário é captado pela ideia de «acesso geralmente igual» a algo. Isso é um pouco diferente de igualdade de oportunidades. A igualdade de oportunidades podia ser satisfeita por uma lotaria, por exemplo, mas isso não seria uma forma justa de dar às pessoas acesso a uma vida próspera. A igualdade de oportunidades também sugere que o mais importante é que as pessoas tenham o que às vezes se designa por «igualdade de partida»: devem começar com oportunidades iguais; se depois as desperdiçarem, bem, o problema é seu. Como a culpa é sua, não se podem queixar. O «acesso igual» pressupõe uma visão mais generosa e compassiva da condição humana. É também sociológica e psicologicamente realista. As pessoas cometem erros; os adolescentes podem ser pouco perspicazes e tomar decisões estúpidas; acontecimentos fortuitos e a sorte desempenham um papel enorme na vida de toda a gente, para o bem e para o mal. Uma pessoa que trabalhe arduamente, superando grandes obstáculos, e que consiga grandes coisas na vida continua a dever grande parte do sucesso à sorte fortuita. É praticamente impossível fazer uma distinção clara entre coisas pelas quais somos de facto responsáveis e coisas pelas quais não somos. A ideia de que numa sociedade justa as pessoas deviam, ao longo da vida — na maior medida possível —, ter acesso igual às condições para levar uma existência próspera reconhece esses factos sociológicos e psicológicos na vida. A igualdade de oportunidades, evidentemente, continua a ser uma ideia valiosa, mas o acesso igual é uma forma sociologicamente mais apropriada de entender o ideal igualitário.

em Como Ser Anticapitalista no Século XXI, tradução de Jaime Araújo, Lisboa: Edições 70, 2022, p. 30.

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