Em primeiro lugar, o princípio igualitário
é captado pela ideia de «acesso geralmente igual» a algo. Isso é um pouco
diferente de igualdade de oportunidades. A igualdade de oportunidades podia ser
satisfeita por uma lotaria, por exemplo, mas isso não seria uma forma justa de
dar às pessoas acesso a uma vida próspera. A igualdade de oportunidades também
sugere que o mais importante é que as pessoas tenham o que às vezes se designa
por «igualdade de partida»: devem começar com oportunidades iguais; se depois
as desperdiçarem, bem, o problema é seu. Como a culpa é sua, não se podem
queixar. O «acesso igual» pressupõe uma visão mais generosa e compassiva da
condição humana. É também sociológica e psicologicamente realista. As pessoas
cometem erros; os adolescentes podem ser pouco perspicazes e tomar decisões
estúpidas; acontecimentos fortuitos e a sorte desempenham um papel enorme na
vida de toda a gente, para o bem e para o mal. Uma pessoa que trabalhe
arduamente, superando grandes obstáculos, e que consiga grandes coisas na vida
continua a dever grande parte do sucesso à sorte fortuita. É praticamente
impossível fazer uma distinção clara entre coisas pelas quais somos de facto
responsáveis e coisas pelas quais não somos. A ideia de que numa sociedade
justa as pessoas deviam, ao longo da vida — na maior medida possível —, ter
acesso igual às condições para levar uma existência próspera reconhece esses
factos sociológicos e psicológicos na vida. A igualdade de oportunidades,
evidentemente, continua a ser uma ideia valiosa, mas o acesso igual é uma forma
sociologicamente mais apropriada de entender o ideal igualitário.
em Como Ser
Anticapitalista no Século XXI, tradução de Jaime Araújo, Lisboa: Edições
70, 2022, p. 30.
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