No seu interior palpitava a ânsia de sentir, de compreender e de saber. Por um lado, movia-o o desejo de buscar e acumular conhecimento e experiência e, por outro, estimulava-o a ansiosa busca, pelos órgãos dos sentidos, do prazer do instante fugaz, da tentativa de refrear e deter o mundo para contemplar e guardar uma imagem, embora a terra continuasse a girar e os planetas e o sol e todos os astros, e o vento, e embora voassem as folhas que se espantam com as novas cores ao cair das árvores, mas sem asas; e caíram por terra, contidas na sua queda, para acabar amontoadas, e assim achar o dim e embora depois chegasse uma nova Primavera, sem elas. Fixar uma imagem fora do curso do tempo. Deter o tempo, mas deixando que decorra. Lançara-se nos braços de quimeras apenas rompidas pela letargia, que começavam de novo quando recuperava os sentidos. O que era o tempo, então?
em Arde o musgo cinzento, tradução de Carlos Aboim de Brtito, Lisboa: Cavalo de Ferro, 2012, p. 23.
Sem comentários:
Enviar um comentário