(notícia: aqui)
Em 2008-2009, quando trabalhei em São Teotónio, presenciei in-loco as (des)condições em que muitos destes trabalhadores viviam e trabalhavam. Um dia vi uma divisão que era só colchões pelo chão, onde dormiam muitos. A cozinha era um fogão de campismo. Casa-de-banho? Se alguém conseguir chamar casa-de-banho àquilo: boa sorte. Fiquei revoltado. Mas o que mais me revoltava era ouvir certas pessoas dizerem: "lá eles vivem pior do que aqui" ou ainda "lá não ganham o que aqui ganham". Um dia desafiei um colega meu a viver e a trabalhar como eles. Ficou calado. Mas agora, de certeza, essas mesmas vozes irão dizer "agora até net e ar condicionado e relva têm!". Serão as mesmas que comecei a ouvir em 2008-2009, agora reforçadas com um deputado do Chega a dizer "as verdades". Mas a verdade é apenas uma: essas pessoas, que consideram que estes migrantes têm demasiados "luxos" e que vêm para cá roubar o trabalho ao português-de-gema, continuarão a ficar caladas, se alguém lhes voltar a dizer que podem sempre trocar, indo para lá eles. Porque o português-de-gema (e que reivindica para si aquilo que depois não quer ver aplicado nos outros) não quer fazer o trabalho que estes migrantes fazem, a ganhar o que eles ganham, nas condições em que eles vivem. Nem por toda a net, ar condicionado e relva do mundo.
2 comentários:
A memória colectiva é muito curta.
https://www.google.com/amp/s/www.sabado.pt/vida/amp/a-vida-no-bidonville-onde-marcelo-vai-inaugurar-um-monumento
Aqueles que falam são quem nunca emigrou, quem nunca viveu em más condições. Esses não têm memória colectiva, nem memória própria. Vivem de saudosismos, do orgulhosamente só. E aposto que ainda escrevem "orgulhosamente" com o acento grave.
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