Um poema de Nunes da Rocha
De um taifa no Alfeite
Olho pró lado da barra — está de chuva.
Calhava agora um ponto negro no Infinito;
Uma angústia, gabardine e par de luvas
O "barreirense", proa à popa manuscrito.
(Não há que duvidar, ele há poeta!
De boquilha, sem anão inglês.
Apesar da metafísica erecta
Do Comércio, Palladium e Marquês)
Eis o ponto negro, agora alto e quente
De entre as calças à boca-de-sino.
A manhã está mais clara, emoliente,
Já requer heterónimo e desatino.
Ah, todo o cais é uma tusa!
Ergo o colarinho de alcache
E vejo a Ideia, matinal, difusa,
Como se tivesse fumado um haxe.
(Lá vai um, outro, todos de chupeta!
É este um país de marinheiros,
Poetas que viajam de cacilheiro
Para a ilha de Creta).
São todos os cais iguais a este?
Devem ser: fedores-caneiro deste,
Mulheres-putas, dealers-homens,
Coisas-Reais que nos consomem.
..........
Cá está o ponto negro, agora nítido
Debaixo da mini-saia.
Tive sorte, com o pré antecipado
Dou uma, clássica, na praia.
em Cancioneiro da Trafaria, Lisboa: & etc, 2009, pp. 26-27.
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